QUEM DERA FOSSE MAIS VERDE

Quem dera ver-te mais verde

— Oh floresta consumida!

Quem dera fosse mais verde

O palco da nossa vida.

Como era a vida tão verde,

Como era tão verde a vida!

Verde vida vida verde

Verde verde vida vida!

Mas o verde que gera vida

Fora dos olhos mais verdes

Virou deserto sem vida

Virou floresta queimada,

Virou poeira e carvão

Que se levanta na estrada!

Virou conjunto de casas

Virou um solo asfaltado.

Oh! Homem que o verde tira,

Que atira fogo no verde,

Por que fazer sua mira

No alvo verde da terra?

Não vê que faz uma guerra,

Que contra a si mesmo atira?

E quando em que verde vira

Diferente é sua lira!

É o verde horizontal

Do vasto canavial.

Não é verde replantado:

É verde vasto de soja

E dos cercados de gado!

Pois acha mais importante

Enriquecer num instante,

Empobrecendo o futuro;

Não ter oxigênio puro,

Não ter floresta nem nada,

Não ter pássaro que cante,

Não ter uma onça pintada;

Um verde mais verdejante,

Viçoso com a invernada!

— Antonio Costta