CHUVINHA FININHA

Chuvinha fininha que desce fraquinha,

Vais com cautela, mas sem muita espera,

Diz ao meu amor que aqui onde estou

Está bem friozinho, e eu, tão sozinho,

Esperando o calor de quem me jogou

Na rede que encanta e chamego balança.

Chuvinha fininha que desce fraquinha,

Molhas aos pouquinhos o meu jardinzinho

De flores que enfeitam o meu corpo de gueixa

E cujos perfumes provocam ciúmes.

Quando tu molhares as minhas plantinhas,

Molhas com carinho, pois elas são minhas

Melhores amigas, de noite e de dia,

Pra quem confidencio os meus arrepios.

Chuvinha fininha que desce fraquinha,

Tu estás chorando ou estás reclamando?

Por que tu lamentas, se lento arrebentas

As armas mais duras e mais carrancudas

De alguns corações que fogem de furacões?

Te acalmas, chuvinha, não chores assim,

Desde outro dia, em que leve caías,

Há tantos jardins, com perfumes sem fins,

Que têm ressurgido nesse mundo perdido,

Carente de amor e de bem mais calor.

Tuas águas tranquilas, mas bem destemidas,

Uniram pessoas que estavam à toa

No meio da rua, passando outra chuva.

Pra dentro dos lares as gentes mandastes

Ficarem juntinhas e agarradinhas

Nos ninhos de amor que tua chuva formou.

Chuvinha fininha que desce fraquinha,

Não chores assim, se fizestes a mim

E a tantas pessoas, com tuas garoas,

Um bem tão danado e tão desejado:

Amar uns aos outros sem nenhum esforço

E ser muito amados e pra sempre lembrados.

Nara Minervino
Enviado por Nara Minervino em 03/10/2019
Reeditado em 20/12/2022
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