Contra-ataque
O asfalto cavado,
As calçadas trincadas,
O rebentar das gramíneas nas frestas do concreto,
O musgo no cimento liso,
O mofo nas paredes,
As tintas de nossas construções apagadas;
Lavadas com a paciência de quem tem tempo a sobrar,
A decomposição lenta, ruminada, de nossos despojos,
As estruturas mordiscadas pela ferrugem,
A chuva que alaga,
O rio que transborda e invade nossas casas e cidades,
O vento que derruba a mãozadas nossas paredes,
Desveste nossas casas e galpões,
O fogo que vem das matas, das matas secas, do cerrado,
E sem pedir licença passa por cima e por dentro de tudo,
As infestações de nossas plantações,
A insistência em revestir de verde tudo quanto despimos de mata a Terra.
...
Tudo isso, e mais que isso, afigura-se-me como a Natureza retomando seu lugar;
Reclamando de volta seu trono.
Como se tudo o que é humano fosse da Natureza um sono.
Como se o próprio homem, da Natureza, uma fuga;
Duas entidades distintas a pelear.
O Homem com sua potência e fugacidade,
A Natura com sua onipotência e perenidade.
Ai de nós!
Aquiles nunca ultrapassará a tartaruga.