Contra-ataque

O asfalto cavado,

As calçadas trincadas,

O rebentar das gramíneas nas frestas do concreto,

O musgo no cimento liso,

O mofo nas paredes,

As tintas de nossas construções apagadas;

Lavadas com a paciência de quem tem tempo a sobrar,

A decomposição lenta, ruminada, de nossos despojos,

As estruturas mordiscadas pela ferrugem,

A chuva que alaga,

O rio que transborda e invade nossas casas e cidades,

O vento que derruba a mãozadas nossas paredes,

Desveste nossas casas e galpões,

O fogo que vem das matas, das matas secas, do cerrado,

E sem pedir licença passa por cima e por dentro de tudo,

As infestações de nossas plantações,

A insistência em revestir de verde tudo quanto despimos de mata a Terra.

...

Tudo isso, e mais que isso, afigura-se-me como a Natureza retomando seu lugar;

Reclamando de volta seu trono.

Como se tudo o que é humano fosse da Natureza um sono.

Como se o próprio homem, da Natureza, uma fuga;

Duas entidades distintas a pelear.

O Homem com sua potência e fugacidade,

A Natura com sua onipotência e perenidade.

Ai de nós!

Aquiles nunca ultrapassará a tartaruga.

David Ariru
Enviado por David Ariru em 26/09/2019
Reeditado em 27/09/2019
Código do texto: T6754216
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