POESIA ECOLÓGICA
QUEM PRESERVA UMA ÁRVORE
Quem preserva uma árvore
Contribui co'a natureza,
Ornamentando a paisagem
Com mais encanto e beleza;
Pensa num mundo agradável,
Mais feliz e mais saudável,
Respirando mais pureza!
Quem preserva uma árvore
Contribui co'a natureza,
Dá valor ao que Deus fez
Com tanto amor e beleza;
Não parte pra ignorância
De cortá-la por ganância,
Almejando mais riqueza!
Quem preserva uma árvore
No peito só tem bondade;
Quer o bem dos passarinhos,
Saúde e felicidade!
Não permite que a corte,
Não contribui para a morte,
Só pro bem da humanidade!
Quem preserva uma árvore
Contribui co'a natureza,
Mostra sua inteligência,
Capacidade e grandeza.
Prova seu amor profundo
Contribuindo pro mundo
Ser bem melhor, com certeza!
MINHA TERRA TEM PALMEIRAS
Minha terra tem palmeiras
Mas não canta o sabiá
Foram contrabandeadas
As aves que tinham lá.
Admiro a minha terra,
A beleza do lugar;
Minha terra tem palmeiras
Mas não canta o sabiá.
Minha terra tem palmeiras
Bem poucas, é bom falar;
Foram muitas arrancadas
Pro pregresso se instalar.
Progresso?... Meu Deus do céu!
Que progresso tem por lá?
Se cortaram as palmeiras...
Se não canta o sabiá!
SE NÃO POSSO MUDAR O MUNDO
Se não posso mudar o mundo,
ao menos plantarei uma árvore.
E a cuidarei com carinho
para que ela faça sombra
e abrigue os passarinhos.
Se não posso mudar o mundo,
ao menos plantarei uma árvore,
para alimentar a meninada;
e que ainda sobre muitos frutos
pro banquete da passarada!
Se não posso mudar o mundo,
ao menos plantarei uma árvore,
para que nela os passarinhos
possam fazer seus ninhos
e gerarem outros passarinhos!...
Se não posso mudar o mundo,
materialista e iracundo,
ao menos plantarei uma árvore,
com sentimento profundo.
“VERDE QUE TE QUERO VERDE”
(Inspirado no verso de Frederico Garcia Lorca)
“Verde que te quero verde”
Na floresta enverdecida;
Verde cada vez mais verde
No palco verde da vida!
Como era a vida tão verde,
Como era tão verde a vida!
Verde vida vida verde
verde verde vida vida!
Mas o verde que gera vida
Fora dos olhos mais verdes
Virou deserto sem vida
Virou floresta queimada,
Virou poeira e carvão
Que se levanta na estrada!
Virou conjunto de casas
Virou um solo asfaltado.
Oh! Homem que o verde tira,
Que atira fogo no verde,
Por que fazer sua mira
No alvo verde da terra?
Não vê que faz uma guerra,
Que contra a si mesmo atira?
E quando em que verde vira
Diferente é sua lira!
É o verde horizontal
Do vasto canavial.
Não é verde replantado:
É verde vasto de soja
E dos cercados de gado!
Pois acha mais importante
Enriquecer num instante,
Empobrecendo o futuro;
Não ter oxigênio puro,
Não ter floresta nem nada;
Não ter pássaro que cante,
Não ter uma onça pintada;
Um verde mais verdejante,
Viçoso com a invernada!
O DONO DO RIO
O Dono do Rio
expulsou todo gado,
as lavadeiras de roupas,
os plantadores de batatas,
os jogadores de bola
e dominou todo rio.
Prendeu suas águas,
deixou só um fio.
O Dono do Rio
montou um areeiro
e hoje vende a areia
por muito dinheiro.
É caçamba saindo,
é caçamba chegando,
e o Dono do Rio
muito mais enricando!
O dono do Rio
construiu mansão,
comprou fazendas,
comprou muito gado,
mas o rio — coitado!
Só foi afundando,
a cada dia sumindo,
a cada dia minguando!
O Dono do Rio
com seus dragões mecânicos,
com sua ganância infinda,
quando menos esperar
ele vai descobrir
que a areia acabou,
que tudo findou,
que a natureza vingou.
O Dono do Rio
um dia verá
que nada é para sempre,
que não é dono de nada!
Que a justiça da terra
pode até ser comprada,
mas a justiça divina
ela vem e não falha!
DRAGÕES MECÂNICOS
Os dragões mecânicos
continuam a cavar,
vão cavando noite e dia
na ribeira do Pilar,
vão deixando o Paraíba
num desarranjo sem par,
quase sem leito e sem vida
pro areeiro enricar!
As caçambas carregadas,
continuam a transitar,
com seu peso espantoso
pelo Centro do Pilar.
Afundando os calçamentos,
as paredes a rachar
e quebrando os monumentos,
patrimônios do lugar!
Cava, cava o areeiro,
cava, cava, sem parar!
co' ambição de mais dinheiro,
sempre, sempre, conquistar.
E as caçambas, dia inteiro,
afundando o meu Pilar!
Mas o povo ele é guerreiro,
não para de protestar,
perguntando o dia inteiro:
a justiça onde é que está?!...
Pra que valem tantas leis
se não fazem vigorar?
AQUELE RIO
Aquele rio de outrora
Que passava no Pilar,
Aquele rio caudaloso,
Que prosperava o lugar,
Trazendo vida, renovo,
Pro ribeirinho, pro povo...
Aquele rio... onde está?
Onde está aquele rio
De meu tempo de menino,
Diferente desse fio,
Neste solo nordestino,
De água pouca, a circular?...
Com máquinas no seu leito,
Arrancando de seu peito
Areias para exportar!
Oh, Paraíba do Norte!
Quem decretou tua morte
Neste solo brasileiro?
Rio preso, encarcerado,
Dia e noite saqueado
Por ganância de dinheiro.
Quando serás libertado
Do poder dos areeiros?!...
Ribeirinhos, defendei,
Trazei de volta ao Pilar,
Aquele rio de outrora
Que prosperava o lugar!
Aquele rio vigoroso,
Que seguia, majestoso,
Livremente para o mar!
RIO PARAÍBA
Rio Paraíba
violentado,
sangrado,
saqueado.
Rio Paraíba
desmatado,
cercado
e esbarrado.
Rio Paraíba
invadido,
extraído,
poluído.
Rio Paraíba
controlado,
minguado,
privatizado.
Rio Paraíba,
que saudade
da liberdade...
da integridade!
Rio Paraíba,
berço da vida,
água bebida...
— que saudade!
ESSE RIO QUE EXISTE AGORA
Esse rio que existe agora
tão diferente na lida,
será o mesmo d'outrora,
da nossa infância querida?
Esse rio que existe agora
d'água suja, poluída,
será o mesmo d'outrora
ou é outro rio sem vida?
Esse rio que existe agora
sem ter mais força no ventre,
será o mesmo d'outrora
ou corre morto somente?
Esse rio que existe agora,
sem árvores em suas margens,
será o mesmo d'outrora
ou será uma miragem?
Esse rio que era tão limpo,
d'água pura, cristalina,
não sacia mais a sede
desta terra nordestina!
Esse rio que era tão cheio
de tilápia e de pial,
por que está assim deserto?
Nos responda o homem mal!...
QUANTO VALE A AREIA DO RIO?
Quanto vale a areia do rio
que a natureza juntou?
anos e anos, a fio,
tesouro que ela guardou.
Quanto vale a areia do rio
onde o vento deita e rola?
Quanto vale a areia do campo
onde eu brincava de bola?
Quanto vale, queremos saber,
a areia do Rio Paraíba?
que estão, todo dia, a vender,
agredindo o leito, a vida!
Quanto vale a areia do rio?
Entregue em troca de nada?
Ou vendida a preço d'ouro,
tesouro da terra amada!
Por homens gananciosos
que fazem negociata.
Quanto vale a areia do rio,
do rio que se fere e mata?!
QUEM ESCUTA A VOZ DO RIO?
Quem escuta a voz do rio,
Quem escuta a sua voz?
Do rio que está clamando
Por socorro a todos nós!
Quem escuta a voz do rio
E dele se compadece?
Pois o rio está clamando
por socorro, pois perece!
Quem escuta a voz cansada
Das águas tão poluídas?
Quem escuta a voz do rio
Lutando para ter vida?...
Quem escuta a voz do rio
Nos clamando, em desespero,
Consumido pelas dragas,
A ganância do areeiro?...
Quem escuta a voz das águas?
Quem escuta a voz do leito?
Pois quem deixa a voz do rio
Adentrar para o seu peito?...
Atentai pro seu clamor,
Criança, jovem, adulto;
Não deixem o rio morrer,
A terra ficar de luto!
RIO PARAÍBA DO NORTE
Quem foi que arrancou suas plantas das margens?
Quem enfiou essa draga em seu peito?
E quem carregou toda areia do leito,
Deixando-lhe assim, quase uma miragem?...
Sinto saudade da bela paisagem,
Do rio caudaloso, puro, perfeito.
Até que o homem se achou no direito
De lhe destruir, qual louco selvagem.
Rio Paraíba da terra do Norte,
Outrora tão cheio, tão bravo, tão forte!
Hoje tão frágil diante de mim...
Onde eu menino, banhei-me em sua água,
Pesquei camarão, piaba e tilápia...
Hoje moribundo... Será o seu fim?!...
O HOMEM NÃO É UM BICHO (?)
O homem não é um bicho,
mas se torna um bicho-homem;
quando ele polui o rio
das águas que ele consome!
O homem não é um bicho,
mas perde todo renome;
quando ele polui as águas
dos peixes que a gente come!
O homem não é um bicho,
mas esse nome faz jus;
quando ele joga no rio
o lixo que ele produz!
O homem não é um bicho,
mas se torna um bicho-homem;
quando agride a natureza,
não tem outro cognome!
NO LEITO DO RIO PARAÍBA
No leito do Paraíba
Se encontrava suprimento:
Tilápia, camarão,
Piabas de montão,
Pra mistura, pra alimento.
No leito do Paraíba
O povo encontrava alento,
Pastoreava seu gado
E colocava roçado
Para o seu mantimento.
No leito do Paraíba
Também tinha diversão:
Um futebol animado,
Depois um banho suado,
Nas águas, com emoção!
Hoje só recordação
Guardamos no nosso peito,
Daquele tempo passado
Dum rio belo e perfeito.
Do leito do Paraíba
O que restou para o mundo?
Um leito tão degradado,
Um rio tão moribundo!
Do leito do Paraíba,
Deste torrão brasileiro,
O que deixou para a vida
A empresa do areeiro?...
Crateras e mais crateras,
Um deserto verdadeiro!
Com seu leito saqueado,
E exportado pro estrangeiro.
Por que tanta ambição
Do homem pra ter dinheiro?
Destruindo a natureza,
Um rio tão prazenteiro!
Oh rio da minha infância,
Haverá pra ti saída,
Para escapar da ganância
Dos areeiros da vida?!...