NEVES ANDEJAS

NEVES ANDEJAS

Deitado,

debaixo da árvore,

envolto na serenidade

da tarde ensolarada,

fixo o olhar nas nuvens brancas

desmanchando-se lentas,

depois de formarem

diversos desenhos

interessantes,

que, em alguns segundos

se desvanecem

como os ageneres.

As nuvens desmancham-se

e continuam brincando

de desenhar novas formas

de imagens vaporosas;

meus olhos

poéticos distraem-se comovidos

com a visão

das partículas aquosas,

que mais parecem

flocos de algodão doce;

olhando-as embevecido,

fico sem temer

que transformem-se

em chuvas abundantes,

e fluam

como um rio caudaloso

por entre vales ressequidos.

Enquanto me distraio

vendo o deslocamento

das nuvens,

com a aparência

de blocos de neve

suspensas na atmosfera,

o por-do-sol

já oferece a beleza

do ocaso por detrás

da serra entardecida;

o vento me traz um cheiro

suave de flor silvestre,

e logo entendo que o lirismo

da linguagem poética

me possibilita sentir

o prazer onírico

de ver também

com os olhos da alma,

as imagens naturais

que esboçam a construção

singular do poema.

Gosto de olhar

para as nuvens em qualquer

instante de lazer

contemplativo; sobretudo

quando elas se realçam

no tempo ensolarado.

Andarilhas vaporosas,

elas encantam

pelo aspecto lúdico

dessas neves andejas,

embelezando o ceu divino.

Levanto-me.

Os pássaros,

com pios estridentes,

agora

se aninham nos galhos

da árvore escurecida

em seu âmago vegetal.

Ao longe,

por detrás

da serra,

as nuvens brancas

confundem-se

com o ocaso anoitecido.

A linguagem poética

fica retida,

adormece

no casulo imaginativo.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 25/07/2019
Reeditado em 31/07/2022
Código do texto: T6704581
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