NEVES ANDEJAS
NEVES ANDEJAS
Deitado,
debaixo da árvore,
envolto na serenidade
da tarde ensolarada,
fixo o olhar nas nuvens brancas
desmanchando-se lentas,
depois de formarem
diversos desenhos
interessantes,
que, em alguns segundos
se desvanecem
como os ageneres.
As nuvens desmancham-se
e continuam brincando
de desenhar novas formas
de imagens vaporosas;
meus olhos
poéticos distraem-se comovidos
com a visão
das partículas aquosas,
que mais parecem
flocos de algodão doce;
olhando-as embevecido,
fico sem temer
que transformem-se
em chuvas abundantes,
e fluam
como um rio caudaloso
por entre vales ressequidos.
Enquanto me distraio
vendo o deslocamento
das nuvens,
com a aparência
de blocos de neve
suspensas na atmosfera,
o por-do-sol
já oferece a beleza
do ocaso por detrás
da serra entardecida;
o vento me traz um cheiro
suave de flor silvestre,
e logo entendo que o lirismo
da linguagem poética
me possibilita sentir
o prazer onírico
de ver também
com os olhos da alma,
as imagens naturais
que esboçam a construção
singular do poema.
Gosto de olhar
para as nuvens em qualquer
instante de lazer
contemplativo; sobretudo
quando elas se realçam
no tempo ensolarado.
Andarilhas vaporosas,
elas encantam
pelo aspecto lúdico
dessas neves andejas,
embelezando o ceu divino.
Levanto-me.
Os pássaros,
com pios estridentes,
agora
se aninham nos galhos
da árvore escurecida
em seu âmago vegetal.
Ao longe,
por detrás
da serra,
as nuvens brancas
confundem-se
com o ocaso anoitecido.
A linguagem poética
fica retida,
adormece
no casulo imaginativo.
Escritor Adilson Fontoura