NO AR SOMBRIO DA MANHA
NO AR SOMBRIO DA MANHÃ
No ar sombrio
da manhã
exala a inspiração
tão triste,
delineando
o poema invernoso
com cheiro de neve,
de frio, de chuva.
Há um sossego aparente,
oculto na beleza
tristonha desse inverno,
que o ar frio não revela:
nem o deserto
das casas fechadas,
nem a sonolência
das pessoas
que as habitam.
A neve, branca
como clara de ovo,
doa a sua leveza
fria ao poema;
deixa que os versos
se derramem
em chuva de garoa
sobre as casas
envoltas em névoa.
Tenta o poema,
abrir passagem
pelas sendas invernosas,
que a lenta manhã,
triste como
o tempo obscuro,
parece reter
a sucessão das horas:
ora no silencio
das pessoas sem alento,
ora na frieza
nevoenta, que paira
na própria manhã
de paisagem invernal.
E o poema, enfim,
preso no ar sombrio
da manhã, não consegue
seguir adiante;
mas pelos versos,
faz a manhã
ser menos triste
e mais alegre;
a manhã invernosa
que, embora triste,
deixa que os versos
lhe alegrem,
lhe embelezem,
lhe adornem
com o brilho natural
da neve, do frio, da chuva.
Escritor Adilson Fontoura