SAUDADE DE UMA PLANTA QUE EU CHAMEI IOLANDA
_____________________________________________ Para o texto: Saudades de Aurora (minha mãe)
De: Dorinha Araújo
_____________________________________________
_____________________________________________ Para o texto: Saudades de Aurora (minha mãe)
De: Dorinha Araújo
_____________________________________________
Saudade de alguém que,
fisicamente,
não mais me sente,
não mais me vê,
não mais me vem,
não mais me nina...
É a vida...
No meu pomar,
uma árvore estava sempre a frutificar.
Dei-lhe o nome de minha mãe
- Iolanda -
e, quando não amparado por sua sombra,
ficava a lhe admirar à distância,
lá de minha varanda.
Chegou o momento em que
aquela bela planta parou de produzir.
Depois foi perdendo os cabelos,
digo: a folhagem.
E eu,
temeroso de perder a sua sombra,
ainda quis insistir com algum remédio,
digo: adubação.
Mas ela parecia não entender
minha dedicação, obrigação, ou devoção.
Comecei a perceber
que a Natureza é implacável.
Fez com que ela,
por toda uma vida envaidecida,
se despreocupasse de sua própria imagem.
Sua esbelteza foi se desfazendo em gravetos,
garranchos que davam a ideia de seu
último esforço para escrever e se descrever.
Ainda recordo sua última folha
balouçada pelo vento,
como se fosse o seu último aceno.
Juntei seus restos num recanto.
Como num túmulo à superfície,
até o menor de seus pedaços guardei
numa célula de compostagem
que eu mesmo construí.
Ali estavam os restos mortais de uma árvore
que me via todos os dias.
O tempo transformou esses restos em cinzas.
Tudo um dia vira pó, vira cinzas.
Colhi-as, cuidadosamente,
e, com uma pá,
comecei a espalhá-las
(como adubo)
sobre as raízes das outras plantas
que iam nascendo, revigorando-as.
É assim a vida:
das plantas e a dos plantadores,
das sementes e a dos semeadores.
Deus apenas governa
essa visível e incontestável vida eterna.
fisicamente,
não mais me sente,
não mais me vê,
não mais me vem,
não mais me nina...
É a vida...
No meu pomar,
uma árvore estava sempre a frutificar.
Dei-lhe o nome de minha mãe
- Iolanda -
e, quando não amparado por sua sombra,
ficava a lhe admirar à distância,
lá de minha varanda.
Chegou o momento em que
aquela bela planta parou de produzir.
Depois foi perdendo os cabelos,
digo: a folhagem.
E eu,
temeroso de perder a sua sombra,
ainda quis insistir com algum remédio,
digo: adubação.
Mas ela parecia não entender
minha dedicação, obrigação, ou devoção.
Comecei a perceber
que a Natureza é implacável.
Fez com que ela,
por toda uma vida envaidecida,
se despreocupasse de sua própria imagem.
Sua esbelteza foi se desfazendo em gravetos,
garranchos que davam a ideia de seu
último esforço para escrever e se descrever.
Ainda recordo sua última folha
balouçada pelo vento,
como se fosse o seu último aceno.
Juntei seus restos num recanto.
Como num túmulo à superfície,
até o menor de seus pedaços guardei
numa célula de compostagem
que eu mesmo construí.
Ali estavam os restos mortais de uma árvore
que me via todos os dias.
O tempo transformou esses restos em cinzas.
Tudo um dia vira pó, vira cinzas.
Colhi-as, cuidadosamente,
e, com uma pá,
comecei a espalhá-las
(como adubo)
sobre as raízes das outras plantas
que iam nascendo, revigorando-as.
É assim a vida:
das plantas e a dos plantadores,
das sementes e a dos semeadores.
Deus apenas governa
essa visível e incontestável vida eterna.