É cidade com saudade
É cidade com saudade;
Do que um dia já foi;
Não tinha casa;
Só era mata;
Poeira e rastro de boi;
Um alguém foi se apossando;
Roçando;
Desmatando sem do;
Colocou placa de venda;
Ao lado da sua tenda;
E não mais vivia só;
Era gente de todo canto;
Por terras interessados;
Comprava lotes, traziam gados;
Em busca da felicidade;
Foram criando uma cidade;
Fazendas foram se acabando;
E as poucas que restaram;
Viraram terra rica;
E os que ali ficaram;
Criaram um estilo de vida;
A enxada bem amolada;
Trocaram pela roçadeira;
Quem batia feijão de vara;
Foi trocado pela despopadeira;
É cidade com saudade;
Do que um dia já foi;
Não tinha casa;
Só era mata;
Poeira e rastro de boi;
Do passado ao presente muito teve que mudar;
A galinha que era caipira;
Agora é poedeira;
O gado leiteiro da estrada de chão;
Agora anda no asfalto onde não existe poeira;
O badoque na mão do moleque;
Também deixou de existir;
Pois o Ibama proibiu caçar tico-tico, pássaro preto, juriti;
Debaixo dos pés de caiçara;
A arapuca armada no chão;
Já não se vê na região;
Proibiram ter na gaiola;
Um coqui de estimação;
A visgas de jaca na cerca?
Tudo isso sumiu;
Bom para deixar voar livre o famoso “curtipiu”;
A comida dos animais;
A quem diga que não;
Mas falo com propriedade;
Tiveram modificação;
As galinhas comiam restos de comida e milho na mão;
Os porcos mandioca e lavagem;
Agora as galinhas comem ração;
E os porcos uma tal de silagem;
Frango pra ser abatido;
Era bastante escolhido, e após anos de criação;
Hoje com três meses;
Estão na prateiras pra comércio;
A base de transgênicos, e da famosa injeção de crescimento;
É cidade com saudade;
Do que um dia já foi;
Não tinha casa;
Só era mata;
Poeira e rastro de boi;
Banana madura no pé;
Coisa da natureza;
Docinha igual mel;
Diferente das de hoje;
Amadurecida com produtos;
Carbureto e ethrel;
Tempo que traz saudade;
É gostoso relembrar;
Vai fazer é muito tempo;
Que comi carne de cocá;
E ovo de pata?
Vi na época que bebia no curral;
A espuma do leite da vaca;
Era café na chocolateira;
Beiju de massa na frigideira;
E o leite que sobrava;
Fazia uma deliciosa qualhada;
Ate queijo e requeijão;
Mas era a noite que acendia a nossa luz;
O candinheiro e no teto da casa o lampião;
Tudo isso que contei;
Foi apenas parte do que vivi;
E que bom que sobrevivi;
Pra poder ta relembrando;
E olhe que tenho trinta e dois;
Imagina se eu tivesse cem anos;
É cidade com saudade;
Do que um dia já foi;
Não tinha casa;
Só era mata;
Poeira e rastro de boi;
Por: Uelton Silva