Terra Silenciosa

A seca nordestina invadiu as casas,

devastou as almas

derrotou Rios

secou Minas

Terra espraiada num mistério divino

anunciam a vida e a morte de um

lobo-menino

E lava a sujeira

a febre

o estrume

Árvores impolutas e

Flores do Cerrado

se erigem em pura

comunhão de vida

Em silêncio

comunicam-se

em folhas

pétalas e perfume

Cúmplices na dor

Vislumbram pastores

de cajados frágeis

que acenam a

errantes rebanhos

por caminhos improváveis

terra de deuses e

demônios,

terra desvairada,

terra irreal, surreal,

virtual,

Entre mísseis, projéteis

e fuzis,

o espaço

cibernético

é um grande abrigo

de alienados e

zumbis,

perdidos num mundo

frenético.

Terra molhada a que tudo atrai

Onde estás no diário naufrágio

de mediterrâneas embarcações ?

No arremesso das bombas,

Na morte das crianças... ...?

És terra fértil ou ruídos

de meras ruminações ?

Entre mortos e feridos

no fosso das drogas,

ouvem-se gritos

varados da terra

e se silenciam na guerra

Terra vermelha,

Coiotes em sentinela

lambem as últimas gotas de

acidez produzida pela

indústria emergente

Consumida em terra

quente

E chora uma chuva

suja

na urbe violenta

na cara da gente

e desce lodo,

penicilina

e cocaína,

e mais um

militar morto

pelo que reina a

disciplina

Terra

de espera,

terna,

na escuridão,

na luz,

terra que

seduz.

Quem sabe

Terra,

nossas lágrimas

enterra?

No dia em que virá

o mais

fraterno encontro

de mãos e lábios

entre um

truculento soldado

israelense

com uma linda

menina

palestina.

Em silêncio... !

Trata-se de um 'insight' provocado pela angústia sofrida em meio a um Mundo cheio de mazelas e contradições. São as tragédias diárias nos planos humanista e ambiental que rodeiam nossas vidas, mas nitidamente ignoradas diante da alienação do homem moderno. A distopia infundida no texto contrasta com a possibilidade de mundos diferentes.

A obra foi escrita com liberdade de métrica e rimas, sem perder o ritmo que impõe o enredo pretendido. O eu-lírico viaja por um mundo distópico em que a alma humana é vilipendiada em função de interesses econômicos que degradam tanto os valores do ser humano quanto o meio ambiente em que vive. Mas não descarta a possibilidade do Amor e da Paz