Passarei nessa vida mil vezes
por mil segundos
por entre respirações
atravessando fonemas e pulmões
agitando o corpo e células
Na demência diária do tempo.

Passarei nessa vida mil existências
No inseto, na flor e no cão.
Serei anjo.
Serei demônio.
Serei gnomo.
Serei a maçã envenenada..
Sem misericórdia.
Sem arrependimentos.
Serei inexorável.

Pois minha trajetória
já estava escrita,
esculpida e justificada.
Por fatos que não presenciei,
por testemunhas que não conheci,
por autores e detratores
que jamais encontrei.

Alguns me terão afeto.
Alguns me acharão abjeto.

Outros serão simpáticos e empáticos.
Outros indiferentes e suspeitos.

Por mais que insista em querer ser aceito.
Não serei aceito por todos.
Não terei amado todos.
E, nem serei amado por todos.
O encontro é um acaso.
O desencontro é fatídico.
Elétrons ionizam-se

Pessoas sentem o luto.
E ficam a flanar a procura
de algum sentido.

A vida não tem sentido.
A palavra não tem abrigo.
O corpo é uma caverna encantada
a abrigar uma alma perdida.

Na ilusão de resgatar-se
num mero bilhete.