O HOMEM DE NEANDERTAL

O homem de Neandertal percebe no pôr do sol

o nexo entre o crepúsculo

e os seus pelos ruivos.

O homem de Neandertal repara então

que há rosas ao seu redor

e a cor das flores chega longe ao poente.

O Neandertal quase entende

a simetria do dia

e sente que algo mais sai do jardim:

uma delicadeza que se está no ocaso,

também está na beira do rio

e à frente do morro.

O Neandertal não cessa a surpresa

e decide tocar a rosa

salvar o primeiro contato

do seu puro acaso.

O Neandertal treme, roça a pétala

e a maciez carnosa da peça

percorre o seu braço.

Mas aquilo não é carne -

pensa o Neandertal que, de súbito,

rompe a pedra lascada

e supera sua pré-história rugosa.

Ele verdadeiramente ama agora uma mulher,

outra rosa na beira do rio.

DO LIVRO: ADVERSO E OUTROS MOMENTOS

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 08/05/2018
Reeditado em 09/05/2020
Código do texto: T6331057
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