Figueira
Eu que abriguei tanta cantiga, fiz sombra aos casais,
Sinto-me fraca e desfalecida.
Pedaços de mim caem e junto com eles vai-se a história.
Ví tudo acontecer, crescer e formar,
Agora vejo-me cair pouco a pouco.
Dizem ser a tal revolução,
Mas por que não posso fazer parte dela?
Calma seu Moço!
Sou só uma figueira, para que tanta violência?
Olhando a bela Matriz, lembro-me da época de glória,
Casais à minha sombra beijavam-se, poetas escreviam,
Fui até casa do João, ó amigo você também se foi!
Empenhou-se tanto em sua obra, fez paredes fortes,
Tais que o protegiam da chuva e do frio, só nãos nos protegeu de nosso pior tormento,
O homem.
Revolução, caminho certo para o abismo,
Se tu continuares destruidora, hoje sou eu, amanhã serão vocês.
Deixo ainda um conselho, será ele o derradeiro,
Lutem enquanto podem, pois quando minha última descendente cair, será tarde demais!
Tenho que terminar, não há mais tempo,
Peço que lembrem de mim como fui,
Forte, imponente e deslumbrante.
Aqui jaz uma figueira.
Eder L. Pacheco