NATUREZA

Súbita e impetuosa ao tocar o asfalto

E na copa das árvores os galhos trêmulos

A chuva deságua calma e sibilante

Desabrigando pássaros que decerto pânicos

Em busca de sombra se vão nesse instante.

No conforto da sala, nós, à maneira dos pássaros

Covardemente ouvimos seu segregado canto

Evocar, sem que o vejamos, húmidas imagens.

E fechamos as janelas, assim nos privando

De seu timbre em encantos, do céu a derramar-se.

Temerosos são animais defronte à

             espontâneas forças que os transcendem:

- Oh, chuva esta que não cessa

  Chove longa e sem ter pressa

  Cai gota à gota na terra gasta! 

  Oh chuva quente que perpassa

  As vidas sedentas dessa massa

  Que sua queda não sejas nefasta

  Mas lave as raízes desta terra.

(...)

Passado o espanto, o frio e o medo

Cantam os pássaros ao fim da tarde.

Assoviando a saudade e seu degredo

Em paz, afinal, passada a tempestade

Ergue-se nas ruas tal forma perfeita:

Os sons se alinham todos em quietação.

Restando no ar somente a voz rerefeita

Dos pássaros a solar dissonante canção.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 30/03/2018
Reeditado em 30/03/2018
Código do texto: T6294593
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