UIRAPURU E PAVÃO À LIRA

Uirapuru me quis dizer ao pé do ouvido

Ao amanhecer prostrou sob a mata nua

Ao soar do assobio de seu bico ungido

Bradou o sol que afugentou a lua

Uirapuru quando canta o grito ecoa

A selva emudece ao ouvir soar a flauta

Seu flauteio reina velejando a canoa

Longe voa, mais que proa de astronauta

A fauna contempla o canto que impera

Em silêncio pelo bosque emudecido

Por quinze dias à sibilar o quanto pudera

Pois quimera será seu gorjeio esquecido

Penacho pardo-avermelhado sarará ruivo

Pluma cor branda tão pouco formosa

O encanto visível acoberta todo uivo

Como pavão que desabrocha sua rosa

O qual se pavonea de nascença

Indispõe de sonância maviosa

Como o pássaro-lira compensa

Simulando lira de cantiga melodiosa

Como o encanto do pavão equipara

A ausência de seu pulmão canoro

Serve de alento o encantado tesouro

Da singular pluma azul que germinara.