A PENA DO CARCARÁ

Voa leve

Ledo Carcará

Sob a sombra breve

Da brisa do mar

Me deixa e voa

Não tenho pena

Segue vento em proa

Em velocidade serena

Voa breve calmo

Carcará cinza escuro

Suaviza na água dalmo

Sendo este teu porto seguro

Vento em popa te escorrega

Descansa tuas fortes asas

Pois vento em proa te carrega

Às superfícies mais rasas

Voa pra longe da razão

De nosso ato civilizatório

Sinta a vida sem a ilusão

De ser humano peremptório

Dê um rasante ao confim

No seu lugar eu o faria

Desligaria os olhos sem fim

Enfim esquecer toda aporia

Toma das asas e parta daqui

Tua pena não é feita para essa cidade

Eu daria meus pés pelas asas pra fugir

Por invejar tua mais plena liberdade

Voa pelo espaço mais agudo

Segue teu instinto pictórico

A cidade é a sombra do mundo

Reflexo vil fantasmagórico

Segue pelo raso profundo

Sei que teu gesto mais simplório

Será o melhor de ti oriundo

O ato fantástico mais notório.