CANTO OUTONAL
CANTO OUTONAL
Canto na tarde,
o que vejo,
as folhas secas caídas no chão,
levitando
como plumas
pelo vento afoito do outono;
olho para cima
e vejo as árvores
despidas tão cheias de solidão;
sem folhas e sem flores,
no vazio das frondes com sono.
Talvez queira,
da tarde, o outono,
ainda sem cheiro de plantação;
contanto que resida
na semente plantada,
a esperança do ser humano
em colher o alimento,
depois da chuva
ter caído abundante no sertão;
e o meu canto seja,
( entre as folhas secas ),
apenas um ressono.
Mas, se fico
somente a olhar para
as árvores com as frondes vazias
de folhas e de flores,
não as percebo
brotando de suas raízes;
e entendo
que o meu canto, na tarde,
as nutre em suas vegetais moradias;
assim, num resquício de ocaso,
resiste entre as árvores
o sol morno em centelhas de luzes.
Então, aonde vai agora
o meu canto
no final da tarde outonal?
Vai em busca de repouso,
entre as árvores sem frondes,
sem folhas e sem flores;
vai amparar
as folhas secas que podem
ser varridas por algum vendaval;
vai sentir mais um dia
de outono perder-se no silêncio
dos recantos noturnos incolores.
Escritor Adilson Fontoura