CANTO OUTONAL

CANTO OUTONAL

Canto na tarde,

o que vejo,

as folhas secas caídas no chão,

levitando

como plumas

pelo vento afoito do outono;

olho para cima

e vejo as árvores

despidas tão cheias de solidão;

sem folhas e sem flores,

no vazio das frondes com sono.

Talvez queira,

da tarde, o outono,

ainda sem cheiro de plantação;

contanto que resida

na semente plantada,

a esperança do ser humano

em colher o alimento,

depois da chuva

ter caído abundante no sertão;

e o meu canto seja,

( entre as folhas secas ),

apenas um ressono.

Mas, se fico

somente a olhar para

as árvores com as frondes vazias

de folhas e de flores,

não as percebo

brotando de suas raízes;

e entendo

que o meu canto, na tarde,

as nutre em suas vegetais moradias;

assim, num resquício de ocaso,

resiste entre as árvores

o sol morno em centelhas de luzes.

Então, aonde vai agora

o meu canto

no final da tarde outonal?

Vai em busca de repouso,

entre as árvores sem frondes,

sem folhas e sem flores;

vai amparar

as folhas secas que podem

ser varridas por algum vendaval;

vai sentir mais um dia

de outono perder-se no silêncio

dos recantos noturnos incolores.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 04/05/2017
Reeditado em 04/05/2017
Código do texto: T5989291
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