VELHO CHICO
Meu rio amado parido nas Gerais,
Que nasce como filho prematuro,
Filete fraco de água, frágil e delicado,
Como bebê de sete meses!
Mas teu caminho é santo,
E sai em teu caminho saciando sedes,
De água e de amores,
Como saciou a minha, e de meu amor!
Ah meu amor do São Francisco,
Que se confunde com muitos outros amores,
Que já chorou tantas lágrimas de dores,
Que tuas águas santas levou!
Tuas águas frias, contradizem o semi-árido,
Tua moldura de semi-árido, contradiz o amor,
Que em meio a caatinga seca, sacia a alma,
E mata lentamente de amor, de prazer, de dor!
Meu amor do rio santo,
Meu amor de santa pureza por mim roubada,
Em meio as águas esverdeadas,
Te jurei dentro de ti, ama-lá e venerá-la!
Não sei por onde andas,
Talvez perdida nas "selvas de Pedra",
Também cidade santa, que de santa, nada tem,
Aqui era minha rainha, aí, ninguém!
Mas eu estou aqui meu amor,
O mesmo vaqueiro anelado e punhal de justas,
Seu desbravador de caatingas, de pele queimada,
Envelhecida e cansada, ainda assim, apaixonada!
Sei que a selva de pedra te mudou por fora,
Mas deixou intocado sua alma sertaneja,
Sei que suas saias rodadas de cintura justa se foram,
Mas sei que em suas veias corre meu sangue, e o seu no meu!
E assim vou aboiando, cantando e encantando o gado,
Tocando a vida minha que ainda é sua,
E que nunca cansa de beber das águas suas,
E de ver seu lindo rosto no brilho da lua!
Dedicado a Inácia Maria de Medeiros.
Única e eterna musa...