ODE À TEMPESTADE
Canto potente dos céus carregados
Por nuvens de plúmbeo e divino fulgor
Arma de deuses jamais derrotados
Em rudes batalhas de extremo fragor
Prostrai a Cronos, selai-o no Tártaro
Ó Zeus armipotente, brandi os teus raios,
Justiça dos céus atinge o pai bárbaro
A nova era fulge entre escombros e cacos
Gigantes de gelo por fim derrotados
A fúria incontida do Mijolnir provaram
É Thor quem avança, instigando os cavalos
Retinem relâmpagos sob seus cascos
Quem traz a justiça feroz e indomável
Abrindo os caminhos, brandindo o machado
É ele, Xangô, o trovão implacável
Que não fecha os olhos ao mal praticado
Divina Oyá que é dos ventos senhora
Bailai entre as nuvens, cantai pelos céus
Tu cuja luz é mais bela que a aurora
Derrama a vida por entre os dedos teus
Rugi, pois, ó céu já de chumbo tingido
Que terror algum teu som pode inspirar
Nenhum que o vil astro-rei envaidecido
Não traga com o seu hediondo brilhar
Brami sem pudor, urrai com vontade
Que o som que produzes é mais que divino
Somente os impuros temem a tempestade
Por não saber nela o mais belo hino
Que a natureza compôs no exílio
Da fertilidade e da vida em pujança
Que o sol arruinou com seu maldito brilho
Impondo a calamidade de herança
Cantai, pois, uivai, ò tormenta bendita
Pois és tu a benção do renascimento
És sempre tão doce, inda que enfurecida,
És término de um vil e ardente tormento
Fazei, pois, brilhar sobre nós teu poder
Que o lampejo argênteo e o imenso clangor
Do trovão que abala o céu e faz tremer
Quem da ignomínia é vil adorador
São juras de eterno e de profuso amor,
Carícias ardentes do céu sobre a terra
Amantes se dando com imenso vigor
Num orgasmo divino que jamais se encerra.