GIRASSÓIS, VOYEURS DO SOL
Olhos de girassóis,
guarda-sóis amarelos,
sóis minúsculos,
pequenos lenços
de amarrar cabelo.
...
Sol e girassol,
às vezes, nós:
paixão cega,
cegueira a dois,
mútua entrega.
...
Nós, às vezes sós:
lençóis desbotados,
tempo nublado,
vento, chuva,
visão turva,
escuridão,
solidão.
...
Um girassol sem Sol:
corpo encharcado,
alquebrado,
despetalado,
esperança do inesperado
momento
do atendimento
ao clamor das luzes,
do esplendor
e do calor de ontem.
Temor do mau exemplo
do mau tempo:
plantações devastadas,
sementes espalhadas,
desperdiçadas.
...
Sol à escuta,
ouve o reclamo,
deitado no horizonte,
sob lençóis enevoados.
Raios volteados
cobrindo a companheira
– uma das quatro estações –,
beija-a e se despede.
Súplicas e emoções:
ele promete que volta;
ela promete qu´o espera.
...
Salto súbito da cama,
Sol em chamas,
qual quimera,
tudo incendeia.
É novo dia:
dia de mudar de companhia.
...
Em outra estação,
saiu da Linha do Equador
em busca de novo amor,
nova paixão.
Paixão de astro gigante,
errante.
Anseio e receio
de nova ilusão.
...
Saudade da Primavera,
dos lençóis dependurados
nos varais de sua janela,
noutro tempo, noutra era,
naqueles febris encontros
doutra esfera.
...
Dedica-se, agora,
à cata do clamante girassol
em finitude,
nalgum jardim estendido:
resto ressequido
de um último vendaval.
Encontra-o.
Sombrio quintal.
Dá-lhe nova luz
e abre algumas frestas
entre os galhos
para bem enxergar-lhe
enquanto arde,
entre a aurora e o arrebol
da tarde.
Ergue-o do chão.
Restitui-lhe a direção.
Afinal,
mesmo ao limiar da noite,
média luz crepuscular,
vê-se ainda fonte de vida,
seu milenar ofício,
ou vício,
ao ser recepcionado
pelo Solstício
de uma nova estação:
Verão.
...
...
Com gente não é diferente.
O homem se vê sol maior:
multicausal, poligâmico, quente.
O mundo gira aos seus pés.
É, no entanto,
um penitente girassol,
do Sol dependente voyeur.
Olhos de girassóis,
guarda-sóis amarelos,
sóis minúsculos,
pequenos lenços
de amarrar cabelo.
...
Sol e girassol,
às vezes, nós:
paixão cega,
cegueira a dois,
mútua entrega.
...
Nós, às vezes sós:
lençóis desbotados,
tempo nublado,
vento, chuva,
visão turva,
escuridão,
solidão.
...
Um girassol sem Sol:
corpo encharcado,
alquebrado,
despetalado,
esperança do inesperado
momento
do atendimento
ao clamor das luzes,
do esplendor
e do calor de ontem.
Temor do mau exemplo
do mau tempo:
plantações devastadas,
sementes espalhadas,
desperdiçadas.
...
Sol à escuta,
ouve o reclamo,
deitado no horizonte,
sob lençóis enevoados.
Raios volteados
cobrindo a companheira
– uma das quatro estações –,
beija-a e se despede.
Súplicas e emoções:
ele promete que volta;
ela promete qu´o espera.
...
Salto súbito da cama,
Sol em chamas,
qual quimera,
tudo incendeia.
É novo dia:
dia de mudar de companhia.
...
Em outra estação,
saiu da Linha do Equador
em busca de novo amor,
nova paixão.
Paixão de astro gigante,
errante.
Anseio e receio
de nova ilusão.
...
Saudade da Primavera,
dos lençóis dependurados
nos varais de sua janela,
noutro tempo, noutra era,
naqueles febris encontros
doutra esfera.
...
Dedica-se, agora,
à cata do clamante girassol
em finitude,
nalgum jardim estendido:
resto ressequido
de um último vendaval.
Encontra-o.
Sombrio quintal.
Dá-lhe nova luz
e abre algumas frestas
entre os galhos
para bem enxergar-lhe
enquanto arde,
entre a aurora e o arrebol
da tarde.
Ergue-o do chão.
Restitui-lhe a direção.
Afinal,
mesmo ao limiar da noite,
média luz crepuscular,
vê-se ainda fonte de vida,
seu milenar ofício,
ou vício,
ao ser recepcionado
pelo Solstício
de uma nova estação:
Verão.
...
...
Com gente não é diferente.
O homem se vê sol maior:
multicausal, poligâmico, quente.
O mundo gira aos seus pés.
É, no entanto,
um penitente girassol,
do Sol dependente voyeur.