O cão que mora em mim
Cães a muitos desagradam
pensam ser bicho ruim
De lhes cheirar o traseiro
Não estou muito a fim
Pois estes sempre enxotam
O cão que mora em mim
Se espantam co'uma pulga
Se horrorizam com as fezes
Como se o cão fosse assim
Um baú só de revézes
Não apreciam os segredos
que nos contam aos ouvidos
nos pedem colo e carinho
Cuidam-nos qual querubins
E os que não os vêem assim
Fazem fugir para a toca
O cão que mora em mim
Correndo sem limites
Tal pequenos cavalinhos
Giram antes de deitar-se
Para amaciar seus ninhos
Saltam uns sobre os outros
sem precisar trampolim
Estar sempre junto ao dono
É o desejo pr'um bom sono
do cão que mora em mim
De barriga para cima
se espicham espreguiçando
para nós também passando
vontade de espreguiçar
Bom dia; lambida quente
pra acordar alegremente
Um bichinho, um carinho
um convite pra brincar
Jovem fêmea, macho amigo
Grande ou pequeno conhecido
Identidade reconhecida
pelo olfato te sigo
Sedento por te encontrar
Pata levantada em respeito
Tradução de amigo do peito
Educados pelos focinhos
Enterram brinquedos e ossinhos
Latem sempre com algum motivo
E é triste ouvir o insensível
Que diz que o latido canino
É um barulho terrível...
Que não tem como parar
Dá-lhes água e carinho
Cura-lhes as doenças
Protege-os do frio,
da fome e da solidão
Dá-lhes um limpo abrigo
Um companheiro, um amigo
e um lugar para brincar
E mais que rapidamente
Verás tornar-se silente
o mais barulhento cão
Co'um riso no canto da boca
Dormindo espichado ou enrolado
escondido em sua toca
Até que os pássaros anunciem
Da silente noite o fim
E boceje boquiaberto
Esticando o traseiro ereto
o cão que mora em mim.