Canto Maldito

Nascido e criado nesta gaiola

Que me faz depender deste boçal

Carcereiro e me arrasta mundo afora

Elogio chamá-lo de animal

Corta-me as asas pra que eu não voe

Anilha de ferro ao calcanhar

Sou registrado e que isso ecoe

Como era o escravo senzala a gritar

Maldito seu Chico e sua família

E que boi não tenhas no pasto ou no prato

Não conheço o vinhedo, a mata, a trilha

Presa indefesa, faminto gato

Bico-te e me chamas de brigueiro

E por odiar-te fico mais caro

Já não vejo um companheiro

A cantar nas matas, agora é raro

Sou Trinca-Ferro e que bom seria

Trincar o ferro de todo grilhão

Petrecho exposto, agorafobia,

Mas hoje dependo desta prisão

Molhado fui na chuva fria

Cozido estou, sol escaldante

Esquecido quando lhe convém

Inda ordenas agora que eu cante?

Cantarei sim; este é meu grito

Pois no mundo sei; não teria sorte

Canto afinado, canto maldito

Que em cada nota deseja tua morte.

Jan/2016