Cicatrizes Da Vida

Antes da serra ser tombada
Foi que tudo aconteceu,
Eis aqui um relato
Da ganância de um homem
Que jamais se esqueceu.

Prestem muita atenção
Na história que vou contar,
O destino de uma árvore
De nome Jequitibá.

Esta árvore foi plantada
Por um pobre lavrador,
Protetor da natureza
Que dispensou toda beleza
Ao saber do seu valor.

Bem no seio de Jundiaí
Junto à serra do Japy,
Foi lá o lugar escolhido
Onde firmou sua raíz.

Cresceu forte, imponente
Trapézio da bicharada,
Os macacos de galho em galho
Em seu tronco a onça pintada.

Muito tempo se passou
Entre as árvores, tornou-se um gigante,
Sua copa de longe se via
Um enorme lençol verdejante.

Certo dia por lá eu passava
Com aquele homem pude conversar,
Falou-me das maravilhas das matas
Para um dia eu testemunhar.

Ao descrever o Jequitibá
A tentação apareceu,
Um madeireiro chega a seu lado
Uma grande quantia lhe ofereceu.

Eu deixo o dinheiro adiantado
Nem precisa por a mão,
Trago comigo uma serra
Num instante ponho ao chão.

O lavrador ficou assustado
É hora de decisão,
Dinheiro nunca é demais
Balançou seu coração.

Os capangas pressionavam
Vamos embora patrão,
Esta homem quase chora
Vendo a serra em minha mão.

Seja um cabra decidido
Pegue logo com as duas mãos,
Oferta melhor não existe
Dizia em voz alta o patrão.

Eu só estava ali de passagem
E pra impedir, o que fazer?
Não conhecia aqueles homens
Tive medo de morrer.

O lavrador angustiado
Aceitou o pagamento,
Mas, deste dia em diante
Sua vida foi tormento.

Naquele momento difícil
O que dizer eu não sabia,
Em seu desabafo de angústia
Vi nascer esta poesia.

Igual a uma criança que cresce
Seus dias acompanhei,
E num gesto impensado e covarde
Pelas costas foi que apunhalei.

Óh minha árvore querida
Não me tenhas como traidor,
Guardarei-te sempre viva em minha memória
Não partas levando rancor.

As lágrimas rolam em meu rosto
Meu coração amarga um lamento,
O dinheiro que tenho no bolso
Não paga este meu sofrimento.

Ao presenciar a derrubada
Chorei feito criança,
Aquela imagem cruel
Nunca mais sai da lembrança.

O ronco da serra era tão forte
Então começou o corte
Fazendo a casca sangrar.

Os bichos que ali estavam
Pulavam de galho em galho,
E começaram a chorar.

O seu tombo foi tão forte
Que a floresta estremeceu,
O silêncio invadiu a mata
Toda fauna emudeceu.

Deram adeus a seu Gigante
Que a vida inteira os abrigou,
Com seus galhos e sua sombra
Só a lembrança ficou.

Adeus, Adeus Jequitibá
Pra onde vais eu não sei,
Só sei que aqui em meu peito
Fica uma dor terrível
Só a morte dará um jeito...

 
João Luis de Oliveira
Enviado por João Luis de Oliveira em 13/12/2015
Reeditado em 11/01/2018
Código do texto: T5479161
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