DEPOIS DA CHUVA...

A mata toda retomou viço

E festejou em rebuliço.

Dentre as nuanças tão castigadas

O verde entrou pelas floradas.

Os liquens, os ninhos, os pergolados

Tomaram cores, vivificados.

E o tudo morto, já encharcado

Ficou no tom recém chegado!

Flores orquídeas e as margaridas

Pacatas flores, as mais atrevidas...

Densas bromélias , os camarões

Em novos viços... novas emoções.

O sol nascia devagarzinho,

Depois da chuva, qual um carinho!

Mesmo depois de castigado

Luminescência de abençoado.

Sempre é preciso pedir licença

Para iluminar toda indecência.

As maritacas berravam em vozes

Coral em guerra aos seus algozes.

Os bem-te-vis não mais calaram

Depois da chuva... mais enxergaram!

Nenhum cenário torrencial

Limita a sina da voz vital.

Nenhum comando ofusca os olhos

Da natureza em vis abrolhos!

Os sabiás de tão cansados

Tarde cantaram seu belo fardo...

De madrugar mais cedo o ofício,

A despertar os sacrifícios.

Depois da chuva...

Brotaram as flores em desperdícios...

Pelos cenários apocalípticos.

E as lagartas dos seus casulos,

Se evadiram em seda e linhos.

À revelia de todo o tempo

Se foi a névoa em ato de alento

As borboletas plainaram as matas

Da natureza reenergizada.

E foi no sopro ao léu do vento...

Que os coqueiros sorveram o alento

De desprenderem suas tão pesadas

Pendentes paias enferrujadas.

Depois da chuva...

Os pardaizinhos empoleirados

Nos galhos secos já bem lavados,

Sorveram a água da chuva ácida

Como promessa de vida chegada.

E do riacho enlamaçado

Surgiram versos de aprendizado:

Doces meandros de fino trato

Envenenados pelo descaso.

Depois da chuva,

Fluiu a vida em cachoeiras

Ressuscitadas das corredeiras.

Se clareou sujas vertentes

Ao entendimento de toda gente:

Da lama fétida, borra molhada

Se fez História nunca sonhada.

Mas toda a vida ressuscitou

Depois da chuva...

Tudo limpou.