Corneta dos Anjos
Despretensiosamente
joguei na terra o farelo
de suas sementes,
o contato com a água
iniciou a mágica.
Brotos irreconhecíveis
de caule enegrecido
e aroma indefinível.
Tenho estranha mania
de gostar dos matos,
um matinho que nasce
é preciosa possibilidade
ao olhar desarmado.
Curiosa, velei seu crescimento
ansiava desvendar a deidade
afrodisíaca da natureza
que embelezaria aquele vaso.
Enchi-me de surpresa e alegria
quando, num insight,
revelaste tua identidade.
Vi a flor que ali estava,
após uma e outra respiração cósmica
sua magia desabrochava.
Estendia seus lábios cheirosos aos céus
oferecendo seu beijo de fada.
A vibrante saia roxa rodopiava.
E eu, embalada por sua graça pensava:
Seu caule negro mergulhado a terra
não é obstáculo bastante que a impeça
de bailar seu branco e roxo entorpecente
no éter flutuante das dimensões inexistentes.