Nossos lados
A chuva mansa
acarinha com cuidado
o solo
e a Primavera
que chegou “ontem”;
cheia de bagagens
e projetos, ainda em
botão ou no ventre...
Na serenata da madrugada
cantou minha nota chave,
abriu minha fortaleza...
Que encontro comigo mesma!
Produziu quietude
deu voz às coisas de dentro...
que não falam;
sussurram, recitam!
Deixou-me pensando
neste cuidado,
que nem sempre
dou conta de ter
e que poucos têm,
com a bagagem
e com os ouvidos
do outro.
Então amanheceu
e vieram os
trovões, relâmpagos
fazendo barulho!
E a enxurrada...
deixando sulcos na terra,
botões sem futuro
verdes caídos
perfumes extraviados...
A impulsividade
marcando sem pensar...
O casal de tucanos,
no galho que não alcanço,
contempla e espera...
Depois da explosão,
saciada e de súbito:
para! A chuva!
Um silêncio fundo
ecoa na floresta...
- Ah! O que foi
esta destemperança?
O casal voa.
Folhas cansadas,
deslizam os excessos:
gotas coloridas
que se desprendem
sem pressa, atentas...
Quem viu? Escutou?
Aprendeu?
Quem vai olhar,
curar as feridas?
Nossos lados.
Extremados.