REBANHOS DE MIM
- Subida às Senhoras do Monte -
Como Caeiro usarei
“Dos homens a linguagem”
Se é poesia não sei
Por certo será mensagem.
Mensagem quase divina,
No alto da encosta do Monte,
Minha ideia é cristalina
Como é todo o horizonte.
Quem de aflito começa
Subindo aquela montanha
Qualquer ideia tropeça
Numa mística estranha.
Antes, veredas de pó,
De granito rodeadas,
Nenhum romeiro vai só
Tem árvores esfoliadas.
Surgem penedos bravios
Com gestas e matagais
Importa fazer desvios
Pra não perder os sinais.
No cimo, com nitidez
De sensações a granel,
Vê-se logo à primeira vez
Indescritível painel.
Perto do céu privilégio
De capelinhas caiadas
Silêncio de sortilégio
De coisas amontoadas.
Num concerto natural
Há rítmo, harmonia e canto
Com melodia divinal
De fresca brisa de encanto.
Eu não quero ser pastor
Nem disso fazer menção
Sinto cá dentro um fragor
Que me derrete o coração.
Senhoras do Monte gigante
Vestido de sol e de vento
É esse o rebanho falante
Traçado no Firmamento.
Não digo “bendito seja”,
Como pensava Caeiro,
Guardo em mim – Deus me proteja -
Todo o meu rebanho inteiro…
Conheço bem minhas praias
E penso naquilo que sinto
As coisas não passam d´ alfaias
Dest´ alma que não desminto!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA