A fenda
Ah esse domingo chuvoso meio apático
Digo, sua face desafia o apreço estético;
mas, quem manda olhar de modo crítico,
por que, ao rigor desse espectro ótico,
até o refinado se faria um pouco rústico...
Então, abandono o meu olhar bem prático,
e tomo para a pintura, um pincel poético;
tentando refazer do parco estado anímico,
e apreciando melhor esse quadro bucólico,
indo ao fundo das coisas, de modo único...
Afinal, o beija- inda discursa na sua ágora,
Pois existem umas flores meio fora de época;
Se, seu viço no fim de outono é coisa ínfima,
Ainda assim, as cores forjam uma vista ótima,
Lembrando, há mais primaveras como a última...
Então, o desânimo passa e a caravana anda,
Vendo a veraz beleza mesmo que por fenda;
Até o deserto é tema se a inspiração não finda,
Ou, mesmo um jardim nos pode ser parca onda,
Quando a alma amanhece com cara de bunda...