DESCENDO NAS ÁGUAS DAS ÉGUAS
Toda vez que eu morro
Eu Morro do Estreito em mim
E curto o Curtume na Luzia
Que reluzia em fim
De tarde, de semana e de ano
Num Cantinho da Saudade
Eu na prancha de barriguda
Descendo pelo Vau, valei-me
Nossa senhora da correnteza
Cana fita e São Caetano
Vou parar no remanso
Sonrizal ou Maretão
Se a bomba não captar-me
E jogar-me no Cancelão
Cancelo a minha volta
E vou descendo rio abaixo
Espiando o banheiro das moças
Meu Deus, mas que diacho!
Eu engancho-me é no Ranchão
Pois meu nariz aponta a ponte
O mercado e o lajedo
A pedra no meio do rio
Que tanto escondeu o meu medo
Por isso eu mando este "velso"
Amparado só na memória
Das sombras do que já foi
Nos pés de mangas de Celso
Chegando ao Canto do Muro
Saudades dos meus tixibuns
Entre lavadeiras de roupas
E louças também tinham
Tudo feito por precisão e amor
Sem olhar para os matos
Sem olhar para os patos
Que voavam depois do Lavador
Na curva para a Barragem
As comportas represam em mim
Esse tempo desprezado
Mas, não o bom lance de Dóda
Assim como o caráter
O bem caiu de moda
Como a queda da Cachoeira
Que cantava ao final da noite
Entre espumas deslizantes
Eu desço pelas Sete Ilhas
Num Cerco ao meu coração
Já sem coordenação doutora
Eu paro é no Cabeludo da Velha Loura
Pois a minha barriguda quebrou
Despedaçada de tanto maltrato
Que vem da nascente e além do Corrente
Num desembesto do vil cobre, em treita
Corre não como o rio
Mas corre tirando ouro, limo, campina, vida,
Pedra de amolar e até malacacheta
Numa conta de noves fora Gerais
Meu rio, alegre e fundo, não mais
Ali o povo ia, ato após ato,
Matar a sede, banhar-se, brincar...
Por entre sombras de ingás, buritis e jatobás
Nos lavadores, pedras e quaradouros
Que hoje nem quaram a dor de ver o rio raso
Tudo é mais um hiato.
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Salvador-BA, 23/03/2015.