O SABIÁ INVEJOSO
Era muito rápido
Sempre visitava
O telhado
De uma casa
Abandonada.
Tinha um canto
Meio desafinado
Que pobre coitado
Inveja seu vizinho
Que cantava bonitinho
E fazia sempre seu ninho
Muito bem feitinho
E protegia seus filhotinhos
Bem distante das serpentes.
O sabiá invejoso
Nada sabia fazer
Nem a sua própria morada.
Gostava de casa velha
Velha, abandonada.
Invejava os morcegos
Porque dormiam de cabeça para baixo.
Invejava o pica-pau no oco do pau.
Invejava o rouxinol que era romântico
invejava o beija-flor que pairava no ar.
Sempre dizendo:
Amigo beija-flor
Tens a fama de apagador de incêndio.
Aquela gotícula de água
Que jogaste naquele incêndio
Daquela mata...
Foi por coragem ?
Foi por amor?
Ou foi pela linda beija-flor
Que estava perdida nas matas?
Era um invejoso sabiá:
Nunca ficava engaiolado
Gostava da liberdade
Voar por todos os lados.
Faminta demais
Meio desafinado
Sujeito bem folgado:
Não aguentava ver uma pimenteira
Que ele passava a semana inteira
Tentando as pimentas acabar.
Invejava o pica-pau
Invejava o rouxinol
invejava o beija-flor
Invejava os morcegos
Em casarões abandonados
Invejava até as aranhas fazendo
Suas teias no telhado..
Só não media a sua inveja incomensurável.
E bem casmurro se acabou
Sem conquistar um amor
Na sua inveja tropeçou
Enquanto os invejados lhes diziam
O mesmo sol que nasce para mim
Nasce para você!
Porém a sombra devemos procura-las .
JOSÉ ANTONIO CRUZ