CHEIRO

Pela minha janela aberta vem me saudar o perfume das flores de manga...

Doce, forte, inebriante como a noite que se aproxima.

Aspiro esse cheiro de passado, de infância...

Cheiro de liberdade... cidadezinha do interior... quintais enormes

Fins de tarde avermelhados... dourados...

Quando a brisa sopra leve, buscando o colo das serras solitárias.

Uma lua faceira tenta aparecer no céu escuro...

Lua minguante... cheia... nova...

As águas do rio se aquietam entoando hinos...

Vão lavando o silêncio e abençoando a solidão dos pastos.

Um pássaro noturno sobrevoa as mangueiras...

O sino da velha igreja parece ter vida própria

E suas badaladas enfeitiçam o silêncio da noite vindoura...

Cheiro de jantar... mesas fartas... crepitar de chamas

Crianças encolhidas sobre o banco enorme... aguardando as horas.

De repente alguém me chama...

Aos poucos vou retornando à esse corpo já cansado...

Vou liberando as recordações e retornando ao hoje...

Mas o cheiro de flor de manga ainda permanece no ar...

Pela janela ainda vejo a mangueira enorme, toda florida...

Mas é tarde...

Preciso retomar o instante...

Desprender-me daquela menina romântica...

Daquela mocinha sonhadora que ainda me segura pela alma...

E definitivamente ainda habita em mim.

Basta sentir o cheiro da flor de manga

Ou ouvir um sabiá na manhã...

Que ela vem toda sorridente e saudosa

Possuir meus pensamentos e adormecer meus medos!

INÊZ CURADO
Enviado por INÊZ CURADO em 24/11/2014
Código do texto: T5047428
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