Nevoeiro da Manhã
Eu moro na terra onde o nevoeiro nos desperta na manhã gelada
E se espreguiça genioso pela montanha ainda escura
Esfumaçando de frio os arvoredos e ruelas
Um longo abraço vestido de branco que vem despertar as maritacas
É como alguém que dá bom dia para a aurora latente
Mas ainda se recosta preguiçoso
Esperando pelo cheiro do café fresco
Que emana dos casebres na serra
É como alguém que está sempre de mudança
Inconstante, insistente, penetrante
O nevoeiro não segue o andar confuso dos homens
Nem se importa com o caminhar distante das estrelas e luzes
O espírito da Cantareira segue apenas o caminho das águas
Que escorrem das encostas e brotam puras da rocha
O nevoeiro da manhã se revela
Em sua dança despretensiosa das horas
Inacessível, misterioso, imprevisível
Mas logo vai embora, repelido pela calidez diurna
Fica apenas a certeza
De que no coar dos cafés de amanhã ele se levantará mais uma vez
Para nos entregar ao manto do alvorecer
E dar boas vindas ao veludo de silêncio que recria a paisagem
Até não restar mais serra, nem céu, nem casebre
Eu moro na terra onde o nevoeiro nos desperta na manhã gelada
E isso já basta