A festa da vida
As pitangueiras dando sangue pro DNA,
Buscam provar que são filhas da terra;
A passarada voa lépida pra lá e pra cá,
analisando as provas, provando frutos;
esse balé sazonal, lá no fundo encerra,
o escoar da vida em seus vastos dutos...
minhas flores esticam seus braços ao sol,
o espelho dourado as mostra mui belas;
se o pescador camufla com isca ao anzol,
elas disfarçam a sua vaidade com folhas;
as frestas do tempo denunciam que elas,
fazem a dedo as suas coloridas escolhas...
que importa que efêmera e vã é a beleza,
é sabor estético que vale enquanto dura;
mesmo cambiando modelitos a natureza,
sempre nos deu esplêndidas paisagens;
e além do belo ao prático ainda procura,
as flores dos feijões, profecias de vagens...
minha orquídea adormece por onze meses,
e se veste de noiva, apenas, por trinta dias;
faz de tal modo que esqueço dos revezes,
a longa espera bebe da vasta recompensa;
flores gestadas no inverno, em noites frias,
apagam dores de parto com a sua presença...
assim, a vida escoa límpida e bela ao redor,
embora nem todos tenham olhos para isso;
em geral atentam apenas para o que é pior,
pisam o belo buscando seus indignos planos;
em suma: a vida seria uma festa de cor e viço,
não atrapalhasse o perverso coração humano...