VIAGEM
Os gados se escoravam, se roçavam, se dando, doando apoio.
De receio de despencarem, de caírem, e de não mais se levantarem.
Outros, não tiveram igual expediente, e com a pele colada no corpo,
Ossos dançando, deitados, lesos, sobre o prato esperavam a hora.
Árvores, semidespidas, braços retorcidos, como ferros de esculturas,
Nesta paisagem, de barro, adereços de poeira e medo formando nuvens...
Volviam a cabeça, fronte adelgaça, brandia para o céu, exoravam apoio.
Mais parecia imensa romaria, dessas vidas sentindo, o mesmo na pele.
Tudo era lacônico, e célere, e triste no cenário excessivo dessa viagem!
Menos o suplício, esse agouro, do gado, dos seus donos, aberto arroste,
Em face das aves de rapina, que em festa, apostavam na loteria.
Do que seria o banquete, desse prato, de desditas, vaticinavam a sorte...
A terra, veias grossas, fendas expostas,gemiam, imploravam apoio.
Gritavam, diante do quadro desse alvoroço, mais uma vida na enxovia,
Que libertava-se dessa sina, dessa triste agonia, nessas viagens!
Para deleite das aves que se precipitavam sobre o banquete.
Albérico Silva