ÁGUA POÉTICA

Provém de mim agora

como filete de água,

os versos dessa hora

sem dor, sem mágoa;

e o poeta comemora

a água que deságua

em forma de poesia,

a descer pela torrente

do rio cheio noite e dia;

num gemer de enchente,

cuja chuva bem tardia

molha a terra carente.

A poesia vai se molhando

nos frios versos chuvosos;

o camponês vai plantando

teus férteis grãos viçosos;

e o poeta vai se inspirando

em teus rios tão chorosos.

Chuva que desaba aquosa

sobre a terra encharcada;

flui a poesia tão invernosa

no estrondo da trovoada;

casa caiada toda alagada;

água poética tão chorosa.

Ó poética, a fluir de mim,

qual lírico rio caudaloso,

cujo pranto soa no clarim;

o vento no tempo chuvoso

traz a música do bandolim,

traz a voz do rio melodioso.

O poeta, enfim, tão contente,

deixa fluir a chuva na poesia;

deixa que o rio tão plangente,

sorria, como o sol, de alegria;

pois há na alma de toda gente,

a poesia divina de eterna valia!

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 23/09/2014
Código do texto: T4973005
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