CREPÚSCULO
Numa tarde descontraído
olho o sol, que descambando,
as nuvens vai pincelando
em tela monumental,
ao longe, no pinheiral
eu vejo diversas cores,
legenda de mil amores
de um amoroso casal.
Nesta hora já vespertina
o meu âmago se agiganta,
ao anoitecer, o que encanta
é o céu todo nublando,
enquanto ao fundo vai dando
vida, às árvores mui lindas,
uma quantidade infinda
de aves que lá vão passando.
Num galope desenfreado
muitas nuvens vêm e vão,
nesta sublime ocasião
o silêncio me devora.
As sombras, que sem demora
vão surgindo enfileiradas,
são as velhas clarinadas
dum tempo que já foi embora.
Me vêm na imaginação
lembranças, lá da Querência,
sinto com tanta veemência
a presença do meu rancho,
e fico como carancho
que vai sendo escorraçado,
tragando o duro guisado
dum predestino carancho.
Eu acho-me tão deprimido
sem saber bem o que sinto,
porque vejo um labirinto
de montanhas desenhando,
e sombras que vão formando,
e a luz que morre e vai embora,
nesse lamento que chora
na casa ao longe acenando.
Um bonito renque de árvores
frondosas e bem moldadas,
vão serpenteando as estradas
moldurando a natureza,
que em estado de torpeza
vai enquadrando o anoitecer,
a lua surge por prazer
com meiguice e singeleza.
Esta minh’alma irrequieta
de vida crepuscular,
nada consegue moldar
além do meu sofrimento,
num clamor ao firmamento
em desatino já bruto,
veste-se toda de luto
e morre neste momento.
Amambaí-MS, Junho de 1975.