RIO AMAZONAS
Eu me paro reverente
Ante a grande pretensão,
Descrever com emoção
A saga deste gigante,
Desde a nascente distante
Cortando vizinho país,
Águas com lindos matizes
E cachoeiras murmurantes.
É o SOLIMÕES grandioso
No Quebrado Cahoa Santa,
Nasce e logo se levanta
O gigante em corredeiras,
Bem longe junto às geleiras
A ebulição do rebento,
A cinco mil e trezentos
Metros, as águas ligeiras.
Em setenta e um foi Loren
Mac Taya, que perto de Agra,
O Rio Amazonas consagra
Como o mais longo dos rios,
E nos enchendo de brios
Veio a grande Paula Saldanha,
Sua emoção era tamanha
Que me tomei de arrepios.
Nome de rio Apurimá,
Nevado Mismi descendo,
Do lado norte de Tila;
El Ninos, Ene, Tambo.
No Planalto de La Raya
ELE cresce logo a saia,
Com o nome Vilcanota
Ao desaguar no Ucaiali.
O Solimões vem mansinho
Dos Andes Ocidental,
Logo aumenta seu caudal
Com águas que vão chegando!
É a boiada caminhando
Na direção da charqueada,
Vai descendo cadenciada
Frente ao tropeiro aboiando.
Recebe o rio Marañon
Que nasce ao norte de Lima,
Vai desfilando sua rima
Lentamente deslizando,
As cachoeiras murmurando
inigualáveis canções,
Passando pelos fogões
Dos ribeiros acenando.
Logo passa por Iquitos,
Letícia, sem alambrados,
Tabatinga, mesmo lado,
Antes do rio Javari,
Sem dar nenhuma "changui"
Pois têm amigos bastante,
Como Benjamim Constante
E o boto anda por ali.
Vem São Paulo de Olivença
E também Amaturá,
Da direita o rio Içá
Com águas só brasileiras,
Têm algumas cachoeiras
E praias nas lindas margens,
Onde vi patos selvagens
Numa revoada ligeira.
Em Santo Antônio do Içá
Também Tonantins, Jutaí,
As lendas que lá ouvi
É chuva, não é garoa,
Lá na linda Fonte Boa
Vi alguns tamanduás,
Passeando por Tamaniquá
Onde ninguém vive à-toa.
Os rios Uarini, Alvarães,
Logo o belo Japurá,
Tefé, Coari, Codajás.
Anori. Purus na direita,
Seguindo a mesma receita
Anamã, Manacapuru,
Em Iranduba o nhambu
A todos que o ouvem, deleita.
Peço licença especial
Para falar num afluente,
Desde as suas nascentes
Por onde elas principiam,
São os veios que desafiam
Em beleza impressionante,
Coisas do Brasil gigante
Que lá se fazem presentes.
É o Negro encantador
Com suas águas escuras,
Trazendo lá das lonjuras
Junto ao líquido precioso:
O murmurar orgulhoso
Das cachoeiras tão bonitas,
Águas frias e benditas
Do NEBLINA majestoso.
Rio Negro vem da Colômbia
Iniciando por Guaiania,
Recebe com alegria
O Cassiquiari, canal,
Mais aumenta seu caudal
Grandes bacias ligando
E por Cucuí vai passando
Com sua calma natural.
Recebe na margem direita
Rios Xié, Içana e Uaupés.
Precisamos muita fé
Pra descer suas corredeiras,
Em São Gabriel da Cachoeira
Ele ceifou muitas vidas,
Mas a Bela Adormecida
Fecha a cancela faceira.
Inclino-me com reverência
Ao porte da natureza,
Ante a estática beleza
Lá da Bela Adormecida,
Deitada bem estendida
Em decúbito dorsal,
A forma tão natural
De a fêmea ser concebida.
Curicuriari. Cauaburí,
Vem do Pico da Neblina,
Ainda trago na retina
Linda visão majestosa,
Da Bandeira portentosa
Que também ajudei hastear,
Tremulando sem parar
Naquela manhã chuvosa,
E depois de Paranaí
Recebe o rio Marauiá,
Do mesmo lado de lá
A linda Santa Isabel
Do Rio Negro, no papel,
Uma bonita cidade,
Quem a conhece, em verdade,
Passa a ser o seu fiel.
Padauari, Demini,
Sua barriga vai inchando,
La em Barcelos chegando
Obrigatória parada,
Pra descanso da jornada
Rolando corredeiras,
Descendo muitas madeiras
Lá das grandes derrubadas.
Recebe também rio Branco
Antes de chegar em Moura,
Jauaperi não é loura
Nem recebe regatão,
Só pequena embarcação
Seja com sol ou garoa,
O rio Negro tem "coroa"
Desde Cucuí a Novo Airão.
Chegando mais para diante
Já se vê a capital,
Em Manaus a Catedral
Vale a pena a gente ver;
O mais lindo entardecer
Da Ponta Negra, famoso,
E o manauara orgulhoso
Desde a hora do sol nascer.
Vão suas águas tão escuras
Com barrentas encontrar,
Custa muito a misturar
Andam tempo lado a lado,
É um estranho bailado
Como que confabulando,
Parece que planejando
Desaguar no mar salgado.
Manaquiri lado esquerdo
Do direito Rio Madeira,
Vão calmos, sem corredeiras,
Cruzar por Itacoatiara,
Urucurituba para
Ante a beleza grandiosa,
Descendo bem caprichosa
De repente, ela dispara.
Silves, mais Itapiranga,
Urucará, Parintins,
Onde reboam os clarins
Anunciando o GARANTIDO,
Aumentam os estampidos
Quando adentra o CAPRICHOSO,
O povo todo orgulhoso
Entre dois bois divididos.
E depois de Juriti
Vai desaguando o Trombetas,
Parecem muitas cornetas
Anunciando mal-me-quer,
Vem Óbidos, Alenquer,
E o grande rio Tapajós,
Santarém, cidade só,
E a lenda do homem mulher.
Monte Alegre, Prainha, Paru,
Almeirim, também Xingu,
Jari, Garupe. Urucu,
Nas suas margens muito dá,
Por Marzagão, Macapá,
Correndo serenamente,
Levando nas suas correntes
Os sonhos do povo de cá.
Transportas tantas riquezas
No sobe e desce incessante,
E os teus ricos flutuantes
Onde acontecem noitadas,
Contraponteiam paliçadas
Onde campeia a miséria,
Quem olha sabe que é séria
Político não faz nada.
Ante a grandeza do rio,
Ante o Senhor do Universo,
Eu reverencio meu verso
Pedindo por nossa gente,
Governos! Olhem de frente,
Problemas dos oprimidos,
Escutem os seus gemidos
Os façam menos carentes.
Manaus-AM, 28 Out de 1994.
À Grande e competente Repórter:
PAULA SALDANHA