Instantâneos paradisíacos
A armadilha de pedras
deitada longamente
se espreguiça na enseada enevoada.
Os maçaricos em revoada
a voar povoam a paisagem praieira
ali bem próxima da Ilha do Maracujá.
Quase geometricamente enfileiradas
e no conjunto perfeitamente encaixadas
, as pedras da camboa
semelham escuros ovos imperfeitos
, postos por esse animal gigante
a se arrastar em longa curva,
séculos atrás...
A canoa indígena aporta,
e seu tripulante tupinambá
salta imponente sobre
as seculares rochas,
cauteloso contra o possível
perigo oculto das arraias
em meio ao quase imóvel
entre a fria água e a lama cinza.
Seu reflexo
duplica na lagoa da camboa
seu poder sobre a pouca pesca represada:
camarões, peixes, siris...
Exceto pelos maçaricos,
o único outro som que ecoa
é o do incrível silêncio,
esse silêncio que leva embora
a mim e a meu imaginário ancestral
sobre estas águas do Mar Dulce.
Na mente, estampadas
estas míticas imagens
de cartão postal antigo,
carimbos na paisagem paradisíaca
: névoa no ar, névoa no mar,
nas areias, em tudo;
nos meus olhos mareados
,
sobretudo...