Janequara: olhares para aquém e além

Já pudeste vislumbrar

a faixa arenosa

da praia de Janequara?

Ela age como uma bígama,

pois ousa trocar

com seus consortes

dois longos e

simultâneos beijos–

O beijo bege-verde

e o beijo bege-barrento

(ou cobreado...).

A praia se nutre

da essência da clorofila

da mata

e dos zoofictoplanctuns

do líquido fluxo

indo e vindo da Baía-do-Sol

ou do Furo das Marinhas,

paragem esta

de cima e de longe

espionada

por olhos algodoados e azulados...

Imagine ali naquelas plagas

uma alma

s o l i t á r i a

que desliza no piso

frio e macio do rio,

o remo deslocando

a montaria:

músculos, braços e mãos,

em automatismo,

enquanto os olhos

já filmam

a verdura

das Ilhas Maruins,

absorto o pensamento

na piema

do pouco peixe,

e siri e camarão vasqueiros,

que ele está levando

para casa,

... para a casa e

(mais ainda)

para as barrigas

roncando,

enquanto ao longe

um caminhão da Ricosa

na pista da ponte

Sebastião Rabelo de Oliveira,

carregando produtos

alimentícios

para o outro lado da Ilha,

onde eu,

saboreando

uma bolacha Cream Crcker

, e sorvendo café com leite,

deslizo a esferográfica Bic

para

, no leito destas páginas,

imprimir estas imagens

puramente ficcionais

e

,paradoxalmente,

nascidas da mais

pura realidade...