CANÇÃO DAS ÁGUAS
Eu canto a canção das águas cristalinas,
que fluem copiosas por entre pedras limosas;
ou a canção das águas poéticas genuínas,
que se diluem no encanto das nuvens vaporosas.
A canção das águas que escorrem pelas calhas
domésticas, e seguem pelos meios-fios urbanos;
ou a canção das goteiras, que vazam pelas falhas
das telhas, nos reles bordéis dos prazeres mundanos.
Eu canto a canção lírica das águas harmoniosas,
que perenizam o amor nos vastos vales verdejantes;
ou a canção que geme em meio as paixões amorosas,
no calor dos suores carnais de gozos emocionantes.
A canção das águas torrentes das chuvas invernosas,
que descem das nuvens em canoros pingos refrescantes;
ou a canção do sertanejo saudando as chuvas milagrosas,
após as penosas secas ao longo dos verões escaldantes.
Eu canto a canção das lágrimas, motivadas por conflitos
existenciais das almas que anseiam por serem felizes;
ou a canção dos choros que escoam dos corações aflitos,
mas acham consolo nas flores singelas de diversas matizes.
A canção ruidosa das cascatas que abastecem os balneários
litorâneos, na alegria do encontro das águas doces e salgadas;
ou a canção das águas dos brejos que estagnam sem itinerários,
mas ecoam nos coaxos dos sapos em meio as noites enluaradas.
Eu canto a canção que se derrama nos suores dos camponeses,
nas tarefas laboriosas de lavrar a terra na rústica vida campesina;
ou a canção gotejante nos suores dos operários urbanos corteses,
que cumprem árduas funções, adequando-as ao rigor da disciplina.
A canção das águas que esfriam no silêncio dos fundos boqueirões,
onde caças despertas saem das tocas, mas bem atentas aos caçadores;
ou a canção melodiosa das mães-d’água à beira dos rios ou ribeirões,
desejando serem amadas nas noites de luar pelos fiéis pescadores.
Eu canto a canção bela das águas esvoaçantes nas fontes luminosas,
regando com águas vaporosas, a grama viçosa das praças ajardinadas;
ou a canção que brota da seiva vegetal, nutrindo as plantas orvalhadas
do sereno da noite, envolta pela meia-luz das estrelas esplendorosas.
A canção das águas que embelezam a imaginação criadora do poeta,
que não se cansa em fazer da poesia, uma arte consagrada à sensibilidade
de poder cantar em versos, todo lirismo natural, cuja razão lhe completa
o pensamento emocionado, no êxtase metafísico da poética realidade.