O COPO D'ÁGUA ( homenagem ao meio-ambiente)
Olhava para aquele copo embevecido.
Talvez porque tivesse a certeza
de que seria o último. Ou o penúltimo.
Pois com um pouquinho de sorte, quem sabe
conseguiria outro copo.
E isso lhe dava esperança.
A água era cristalina, pura
e irradiava a luz que transcendia do lugar.
Via-se lado a outro.
Parecia mais um brilhante lapidado,
gotículas embelezando a borda cheia
sem escorrer para o lado de fora.
Ficava pensando na dádiva que era aquele copo.
Mataria sua sede. Aliviaria seu mal estar.
Significava a vida!
A vida que estava se esvaindo aos poucos de si.
Lembrou de outros copos, antes
quando ainda era possível a abundância.
Tempo bom. Tudo era em demasia. Até a água.
Hoje a grande fortuna era ter aquele copo.
E sabia bem o que significava tê-lo
pois o vira encher-se após longa espera, gota a gota.
como diamantes caindo toc toc toc.
Mas estava no fim.
Como tudo nessa vida, estava no fim.
Olhou mais uma vez para o copo
antes de sorver-lhe a água.
Depois, vagarosamente virou-o na boca
e sentiu na garganta o descer do líquido precioso.
Por hora estava salvo, mas, e depois, como seria?
Recolocou o copo sob o pingo que teimava em não cair
e esperou. Muito. Uma eternidade.
Vislumbrou o copo vazio
e teve então a certeza de que não haveria mais água.
Não mais.
As forças já lhe faltavam.
Estendeu as mãos inutilmente em busca do copo.
Deitou. Fechou os olhos, e na espera
adormeceu...