ARROIO RIBEIRO

Arroio Ribeiro, meu irmão,

temos mais coisas em comum

além do nome:

um mesmo afã, uma ânsia igual

a ambos nos consome,

fatal, predestinada

desde nascido

em buscar um mar distante,

onde tuas águas se diluam,

onde eu encontre a razão da morte

e - quem sabe? -

uma resposta para a vida.

O tempo foi igual para nós dois,

se deixou a tua marca nos barrancos

também deixou sinais na minha face,

nas rugas do meu riso

e do meu pranto,

na neve rala de maus cabelos brancos.

Minha indômita braveza

contra a injustiça, o desamor

e outras coisas que me intrigam,

é bem igual ao furor

da tua correnteza,

quando as cheias dos invernos

te castigam.

As águas de teu curso

são como o sangue que em mim corre,

levando com a vida

a esperança que não morre.

E tanto quanto em teus fundos peraus

ecoam os gritos de afogados,

no fundo de meu peito

gemem os meus sonhos sepultados.

São tuas prainhas de verão,

de areias morenas e macias,

cheias de sombra e frescor,

as aquarelas de minhas alegrias,

retratos de ternura

e de minha poesia

- identidade do amor

e da efêmera ventura.

Há, entretanto, em nosso destino,

algo diverso e bem distinto:

enquanto eu terei fim e paz

na morte que eu pressinto,

tu - pobre de ti -

és condenado a continuar

a percorrer sempre idênticos caminhos,

eternamente

em busca do teu mar.

Waldy Würdig
Enviado por Waldy Würdig em 14/05/2014
Código do texto: T4806719
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