ARROIO RIBEIRO
Arroio Ribeiro, meu irmão,
temos mais coisas em comum
além do nome:
um mesmo afã, uma ânsia igual
a ambos nos consome,
fatal, predestinada
desde nascido
em buscar um mar distante,
onde tuas águas se diluam,
onde eu encontre a razão da morte
e - quem sabe? -
uma resposta para a vida.
O tempo foi igual para nós dois,
se deixou a tua marca nos barrancos
também deixou sinais na minha face,
nas rugas do meu riso
e do meu pranto,
na neve rala de maus cabelos brancos.
Minha indômita braveza
contra a injustiça, o desamor
e outras coisas que me intrigam,
é bem igual ao furor
da tua correnteza,
quando as cheias dos invernos
te castigam.
As águas de teu curso
são como o sangue que em mim corre,
levando com a vida
a esperança que não morre.
E tanto quanto em teus fundos peraus
ecoam os gritos de afogados,
no fundo de meu peito
gemem os meus sonhos sepultados.
São tuas prainhas de verão,
de areias morenas e macias,
cheias de sombra e frescor,
as aquarelas de minhas alegrias,
retratos de ternura
e de minha poesia
- identidade do amor
e da efêmera ventura.
Há, entretanto, em nosso destino,
algo diverso e bem distinto:
enquanto eu terei fim e paz
na morte que eu pressinto,
tu - pobre de ti -
és condenado a continuar
a percorrer sempre idênticos caminhos,
eternamente
em busca do teu mar.