MACIEIRA
A macieira negou-me seus frutos!
Não será agora tempo de maçãs é isto?
Podia jurar que as vi no mercado
Rotuladas separadas e etiquetadas
Demarcadas pesadas e arrumadas
Podia jurar que as vi no mercado sim!
Mas a macieira negou-me seu fruto
Logo a mim que a reguei dia após dia sem falhas
Cuidei do solo onde ela cresce
Afastei os pássaros tão danosos
E as lagartas?
Oh macieira não me diga que esqueceu as lagartas?
Bichinhos famintos e impiedosos a devorar tuas folhas
Eu as combati...
As afastei
Cansei achei que estava tudo perdido
Você viu não viu?
Mas no fim... triunfei!
Mas a macieira... ha esta macieira...
Não me deu seus frutos
Eu a vi La fora nas intempéries
Os ventos do sul salgados de mar a fustiga-la
A neblina baixa tomada de maresia a cobrir-lhe
Eu vi a tudo e me preocupei
Cuidei para que as folhas velhas e feias não toldassem o chão onde vive
Retirei os galhos mortos
Afugentei os cães que queriam demarca-la
Bem... afugentei na maioria das vezes ao menos
Bem sabes macieira que aqui ha cães demais
E eu tenho horas de menos
Algum gato vadio em teus galhos?
Eu o enxotava
Um único ninho de canário na primavera?
Confesso eu permiti
Pássaro belo quando livre o canário
Cantou pra você e lhe mostrou o milagre de sua vida nascendo
Fui zeloso macieira...
Mas a macieira negou-me seus frutos
E agora o que fazer com tanto tempo?
Todas as horas e dias e meses que entreguei a você?
Todo o meu pensamento positivo
Todos os planos e sonhos pra tuas frutas?
Sem Eva nem serpente no meu quintal
Sem madrasta má ou branca jovem por aqui
Guilherme Tell aqui jamais esteve
Éramos só você e eu macieira
E teus frutos
E os doces vindos deles
Quem sabe talvez algumas tortas
Issacc Newton teria amado tua sombra
Pra pensar em gravidade e quaisquer outras coisas em que ele pensava
Já eu sempre quis tão pouco macieira tão pouco
Só ler um pouco abrigado sob você
Colher em minhas mãos vez por outra uma maçã
Tanto te dei
Tão pouco pedi
Esperei...
Mas a macieira me negou seus frutos!
Na próxima certamente tentarei uma laranjeira.