A Tormenta Se Avizinha
Aqui neste quarto
Neste pequeno quarto
Já são quinze para as quatro
Da manhã
Amanhã eu vou acordar cedo
Cedo à pressão
Que me exerce neste quarto
Neste pequeno quarto
Vou derrubar as paredes
Todas as quatro
Deste pequeno quarto
Tenho andado por tantos lugares
Por toda esta cidade de São Paulo
Mas só hoje percebi
Que até hoje ainda não saí
Deste pequeno quarto
Tinha uma aranha no meu caneco de cerveja
Mas eu não a matei
Tinha formigas enormes no quintal de casa
Mas eu não as pisoteei
Tinha sete andares entre mim e o chão
Mas eu não pulei
Tenho pulado todos os dias
Durante vários anos de minha vida
Mas hoje eu só pulei da minha cama
E decidi não me matar mais por algum tempo
Tantos anos
Tantos pensamentos
Tantas ideias
Tantos sonhos
Todos eles presos
Aqui dentro deste pequeno quarto
Dentro desta pequena cabeça
Mas não mais
Posso sentir algo chegando
Algo grande rastejando
Como as nuvens cinzentas antes da chuva
Ou o tremor da terra antes da erupção
Minha alma, meu coração
Entram em combustão
Está chegando
Sem previsão
Inesperado e
Incontrolável
Está chegando
A tormenta se avizinha
E toma tudo de assalto
Atormenta-se a vizinha
E eu grito ainda mais alto
A tormenta se avizinha
Não volto mais, eu não paro
Atormenta-se a vizinha
E o volume já tá no talo