Nos olhos secos faltam lágrimas

Quando as coisas

Estão pretas por aqui

As crianças choram por mim

Choram, choram por mim.

Não tenho mais lágrimas

Os olhos secaram, faz tempo...

As minhas forças não resistem

Já se acomodaram com o sofrimento

Os pés solitários no chão

Não é descuido, nem maltrato

É o jeito encontrado de me assumir.

A água do jeito gostoso

Indolor, transparente, escorrida

Fresca, inodoro... Aqui não existe...

O sereno que sempre curtia as flores

Ofuscado, “tomou chã de sumiço”...

A voz perdida não fala mais

E, a coragem, desaparecida por encanto

Conforma-se ao lado do riacho seco

Com o que aparece à frente do coração tolerante...

As preces que tanto confiava

Não adiantam, elas não são mais ouvidas...

A muito, o sertão permanece passado

Longe dos prazeres, do gosto pela vida

Uma gota quando cai, a cabeça alegra

Faz festa, dorme temporariamente sossegada...

Dos olhos secos e cabisbaixos

Não correm lágrimas, nem por amor...

Tristes, à procura por estado de melhoras

Ficam acanhados decepcionados

Quando o vento parado, nega socorro

Não aparenta promessa nem anima o esperado

Aos votos de boa vontade, esquecem

Não acreditam, nem pedem milagres...

Rezas, somente para quando

Os céus trocarem de donos

Ou mesmo, se a necessidade for passageira

E os ventos em misericórdia tragam chuva.

Com tamanho sofrimento, à vista

O desespero toma conta, chama a dor

Desaquece a vida e o terreno árido

Confuso, não anima ao encontro com a fé.

Na garganta o grito não sai

Embora, se precisar se mata

Não se entrega... Morre por dentro...

Maria do sorriso lindo

Mulher por todos assediada

Não tem mais encanto.

No rosto, a beleza se foi

As rugas chegaram animadas

E as marcam, lhe fazem companhia...

Quando as coisas

Estão pretas por aqui

Não posso chorar... Faltam lágrimas

As crianças choram por mim, choram por mim...

Dos olhos secos e cabisbaixos

Não correm lágrimas, nem por amor...

A muito, o sertão permanece passado

Longe dos prazeres, do gosto pela vida

Uma gota quando cai, a cabeça alegra

Faz festa, dorme temporariamente sossegada...

Cromeu
Enviado por Cromeu em 06/11/2013
Código do texto: T4558813
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