Água é precisa... é precisa
A cada dia o sertão ferve
Racha o chão, pune a vida, arrasa tudo
O sereno não produz
Uma gota de felicidade
As folhas murchadas se retraem
Não tem sossego, desaparecem
Nem conhecem o gosto do carinho...
O rebanho se entrega
Ao flagelo da sorte
No viciado pasto de pouco interesse.
A tristeza se junta à solidão
E as lágrimas encruam
Num silencio de fazer dó...
O sol num tempero ardido
Alastra-se sem um pingo de piedade
Queima o rosto, enruga a pele
Não concorre para um bom juízo
Produz efeito desnecessário
Atropela, descuida... Mata.
A chuva raro remédio
Para o remendo da dor, não se atreve
Não dar trégua e, mesmo de passagem
Não acena para destino festivo.
A água no rio chega devagar
O consumo rápido não dar conta
Nem tempo para o banho...
Fica pela metade, meia sola.
O vento outrora era bem vindo
Com as chuvas, alegrava a criançada...
Não se pode falar de castigo
O sol predomina... Mete medo.
Pode me trancar dentro do seu coração
Lavar minha alma... Absolver meus pecados
Levar minha cabeça ao encontro dos céus
Pode ainda fazer festas, alegria, carnaval
Noites enluaradas, céu bonito... São João...
Pode até a sorte ser inoperante...
Mas a água é precisa... é precisa.