Água é precisa... é precisa

A cada dia o sertão ferve

Racha o chão, pune a vida, arrasa tudo

O sereno não produz

Uma gota de felicidade

As folhas murchadas se retraem

Não tem sossego, desaparecem

Nem conhecem o gosto do carinho...

O rebanho se entrega

Ao flagelo da sorte

No viciado pasto de pouco interesse.

A tristeza se junta à solidão

E as lágrimas encruam

Num silencio de fazer dó...

O sol num tempero ardido

Alastra-se sem um pingo de piedade

Queima o rosto, enruga a pele

Não concorre para um bom juízo

Produz efeito desnecessário

Atropela, descuida... Mata.

A chuva raro remédio

Para o remendo da dor, não se atreve

Não dar trégua e, mesmo de passagem

Não acena para destino festivo.

A água no rio chega devagar

O consumo rápido não dar conta

Nem tempo para o banho...

Fica pela metade, meia sola.

O vento outrora era bem vindo

Com as chuvas, alegrava a criançada...

Não se pode falar de castigo

O sol predomina... Mete medo.

Pode me trancar dentro do seu coração

Lavar minha alma... Absolver meus pecados

Levar minha cabeça ao encontro dos céus

Pode ainda fazer festas, alegria, carnaval

Noites enluaradas, céu bonito... São João...

Pode até a sorte ser inoperante...

Mas a água é precisa... é precisa.

Cromeu
Enviado por Cromeu em 26/10/2013
Código do texto: T4542667
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