Ser tão seco
Vinde a mim gado minguado
Ressecada, a rês sem cauda
Esse couro que secou-se
Isto é secura, e vê se cura
Esse couro que se come
Ou some o homem de fome
Com mágoa desta falta d'água
E da aridez de nenhuma lágrima
Ainda só os fortes é que tem sorte
Pois continuam escapando da morte
A atenção constante é a maior causa
De uma tensão causticante e sem pausa
Que marcou a ferro vincos na minha alma
Só sinto que teci este sucinto lamento
Por ser tão seco, o meu ser tão sedento
De um sertão inteiro ardendo dentro do peito
Pelo deserto que de certo o foi meu companheiro
E que hoje deixo seguindo o canto que lancei ao vento