Amoreira silvestre
Num passado muito distante, foste minha companheira das tardes,
Eu te amava e não me pertencias, era no vizinho que crescias,
Mas teus galhos me procuravam e sabiam o quanto te desejava,
Eram meus, teus melhores frutos, de sabor suave e selvagem.
Assim ficávamos embebecidos, e quanto mais te consumia,
Mais te doavas... mútuo prazer nos unia e, assim crescemos juntos.
Quanto de ti ainda existe em mim, nos lábios, no sangue e no peito ?
Agora, passados tantos anos, já nem sei se existes e tens frutos.
Naquela sombra dos teus galhos, me abriguei nos dias ruins,
No sabor dos teus frutos, saciei minha carência infantil,
Nunca mais te esqueci, e ainda te procuro nos cantos da cidade.
Hoje, resolvi dar um fim a essa busca insensata,
Passei, olhei, meditei e deixei meu coração voar,
Entre várias, te apontei e sei que a escolha foi guiada.
Agora vou cuidar de ti, de tal forma, que se não te sufocar,
Hás de crescer, florir e frutificar, e novamente nos uniremos,
Até que dessa vez, um dia, serei eu a te deixar...
Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2013.
P.S. Na mitologia grego-romana a amoreira era dedicada à deusa Minerva/Athena. Muito apreciada nos banquetes romanos, o uso da amora foi mencionado por Ovídio, Horácio e Virgílio. Além disso, foram encontradas representações da amoreira nas ruínas de Pompéia.