DE GOTA EM GOTA
Luz que no horizonte se levanta
Varou a distante noite calada
Lá do céu rompe-se em vozes tantas
Ao orvalho faz lenta serenata...
E uma gota d’água valsa na folha
Pela folha ela brilha e desata
Milhares dela bailam em suas bolhas
Nas lonjuras lá no coração da mata...
E depois se dispersam à luz da aurora
Desfazem-se, infestam a umidade do ar
Viram arco-íris quando ao sol se demoram
Voam, voam nos céus, gotas vem repousar...
Sempre voltam às folhas que não se esquecem
Entretecem caminhos, percorrendo caules
Quando caem ao solo então acontecem
Umedecem grãos, eleva o verde aos auges...
Quando elas faltam, a natureza chora
Chora o pó, poeira dos seus olhos verdes
Que ficam logo secos no passar das horas
Esperando a seiva as lhes matar a sede...
E o silêncio fala em oração sem dano
Que o solo racha, feito vidro ferido
Os milênios falam ao coração humano:
De gota em gota volta tudo a ser florido...