IPÊS - CANTO V
Ponho-me na estrada.
O calendário avisa-me:
é chegado o tempo.
Nos vales e colinas que margeiam o caminho,
meus olhos buscam ávidos
a imagem tão esperada!
O cipó-de-são-joão que se arrasta e se alastra
já colocou seu toque mágico,
fazendo a sinfonia das cores...
Como é lindo e solidário!
Porém, nada se iguala à beleza feiticeira que busco.
De repente... ei-lo!
Sozinho, único,
dono de todos os meus sentidos,
apesar de tão criança!
Pela sua tonalidade, desbotada ainda,
grita:"Eis que floresço; estou de volta!"
Ipê, meu ipê,
com que ansiedade o aguardo a cada ano!
Como faz falta à paisagem cinza da seca,
ou impiedosa das queimadas,
a sua luz dourada que se derrama piedosamente,
vivificando toda a aridez da natureza!
Floresça! Brilhe! Espalhe-se!
Reine galhardamente no seu tempo!
Inebrie as retinas e o coração dos passantes sensíveis
e tente despertar os insensíveis...
E ao derramar-se por inteiro,
sei que voltará ao anonimato.
Isso é próprio da sabedoria infinita de Deus!
Mas eu o estarei esperando, a cada ano,
enquanto o Criador me der esse presente.