IPÊS - CANTO V

Ponho-me na estrada.

O calendário avisa-me:

é chegado o tempo.

Nos vales e colinas que margeiam o caminho,

meus olhos buscam ávidos

a imagem tão esperada!

O cipó-de-são-joão que se arrasta e se alastra

já colocou seu toque mágico,

fazendo a sinfonia das cores...

Como é lindo e solidário!

Porém, nada se iguala à beleza feiticeira que busco.

De repente... ei-lo!

Sozinho, único,

dono de todos os meus sentidos,

apesar de tão criança!

Pela sua tonalidade, desbotada ainda,

grita:"Eis que floresço; estou de volta!"

Ipê, meu ipê,

com que ansiedade o aguardo a cada ano!

Como faz falta à paisagem cinza da seca,

ou impiedosa das queimadas,

a sua luz dourada que se derrama piedosamente,

vivificando toda a aridez da natureza!

Floresça! Brilhe! Espalhe-se!

Reine galhardamente no seu tempo!

Inebrie as retinas e o coração dos passantes sensíveis

e tente despertar os insensíveis...

E ao derramar-se por inteiro,

sei que voltará ao anonimato.

Isso é próprio da sabedoria infinita de Deus!

Mas eu o estarei esperando, a cada ano,

enquanto o Criador me der esse presente.

NEUSA RAMOS
Enviado por NEUSA RAMOS em 18/01/2013
Código do texto: T4091414
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