SÃO FRANCISCO - SONHO OU REALIDADE?
Asfalto, terra batida, pé-de-moleque,
bloquete, poeira vermelha,
ônibus carregado de gente e curiosidade,
tudo, rumo ao topo da Canastra
onde, numa paz descomunal,
nos espera São Francisco, nascente e imagem,
que velam pelo Sudeste e Nordeste brasileiros!
A trilha íngreme, pedregosa, sulcada, que sobe a serra,
posta-se rente ao despenhadeiro e à montanha,
descortinando um cenário jamais visto,
jamais esquecido.Deus é maravilhoso!
E em meio a calafrios, suores, silêncios sufocados pelo medo,gritos,
esfregar de mãos, palpitações, ansiedades,
eis que surge, após oito quilômetros de subida alucinante,
desde o sopé da serra,
outra visão inesquecível:
a entrada do Parque Nacional da Serra da Canastra!
Lá está o guia que acolhe e acalma toda aflição;
que orienta e anima para os caminhos do planalto.
Quatro quilômetros, agora não mais tão perigosos,
separam-nos das nascentes daquele que é,
foi e será o "Nilo Brasileiro",
o "Rio da Unidade Nacional",
apesar da insensibilidade daqueles que destroem
no dia a dia de sua ganância,
na mais perfeita mostragem de ignorância!
Vencida a distância, que surpresa incrível!
Agora são prados e campinas que se estendem
a perder de vista,
nos setecentos e vinte mil hectares do parque!
Os raios do sol, filtrados pelas nuvens,
formam claros-escuros na pradaria verde-acinzentada,
onde se protegem animais camuflados
e onde se misturam plantas e florinhas rústicas,
mas incrivelmente fantásticas!
As pedras, nascidas e espalhadas por toda a campina,
ora formam exóticos "jardins de pedras",
ora se mostram em formações rochosas,
que só mesmo a mão de Deus!
E é nesse cenário quase inexplicável
que nos surgem São Francisco-imagem,
engastado num pedestal
rodeado por um cercadinho de pedras
e São Francisco-rio, filetes de água pura,
brotados miraculosamente sob nossos pés,
que se vão juntando uns aos outros e...
de repente, sob forte emoção, o primeiro murmúrio,
o primeiro balbucio do "bebê-gigante"
que se levanta no alto da serra!
E no primeiro espelho de águas límpidas e frescas
que reflete o rosto extasiado do visitante,
peixinhos brincam despreocupados
sem saberem que habitam o seio do "gigante" que corta o Brasil,
que é a única fonte de vida e esperança
dos flagelados nordestinos...
Nesse momento de contemplação,
ante a prova contundente
de que Deus é infinitamente maravilhoso,
toda a angústia da subida,
toda a expectativa da descida
são inteiramente olvidadas:
o belo suplanta o medo!